BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma Ténue Esperança - Daniel Cristal


Uma ténue esperança, muito frágil,
Uma frágil esperança, muito útil,
Que cresça, que madure e seja ágil
Num mundo sem piedade e muito fútil !
 
Uma ténue esperança que não morra,
Que cresça, se expanda e amadureça;
Que fortaleça e quebre a masmorra,
E seja a nova linha que nos teça...
 
Que quebre esta masmorra que definha,
E seja a Esperança ou feito vivo,
Um feito bem tecido em toda a linha !
 
Uma ténue esperança que seja crivo,
E separe o bom trigo do mau joio
Sufocando-nos hoje neste poio...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meio Homem Inteiro - Rogério Simões


Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.

Esta vida não Vivi - Rogério Martins Simões


Será que na vida não vive
Quem na vida já viveu?
Ou será que terá vida
Quem nesta vida sofreu?
Eu que morri e que vivo
Dentro do mundo que passou,
Nos versos que não morrerão
Após rasgar a vida
Irão lembrar quem chorou
E esta vida não viveu.

Comentários Cordiais


Afinal, quem por cá me acena com comentários cordiais, é poeta também. Bons poetas, que neste meu percurso traduzido por apresentação de trabalhos poéticos sobretudo, desde o início deste século no ciber-espaço internético, me leram e aceitaram e comigo emparceiraram numa senda literária inacabada. Com eles partilharei este lugar de vez em quando, editando hoje um deles aleatoriamente, sendo o segundo (pois que já expus aqui uma poesia de Célia Lamounier de Araújo) : Rogério Simões. Outros poetas seguir-se-ão num destes próximos dias. Ora leiam estas duas poesias que se seguem, e digam-me se apreciaram estes belos trechos poéticos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Canção do Mar - Daniel Cristal


Capitão almirante bravo
sem enjoo antigamente
no tubo sarfando em frente
sal agora em todo o lado
 
Tudo encolheu nesta terra
da afamada aventura,
minguou chão e altura,
mar é tubo onde ele erra
 
Ah, poeta d' antanho presente
minguou nosso horizonte
- o que foi mar agora é fonte
poesia e a voz da gente!
 
Tubo curvo como a água
curvo saído cristal
terra agreste ao lado sal
um não sei quê duma mágoa
 
Ah, vate velho sina boa
navegante do mar sonhado...
ó, epopeia que deu brado
vento à bolina que voa!
 
Pra onde vamos neste mar
Onde navegamos capitão?
Deixa a mágoa coração
procura outro linguajar!
 
Que da língua não se perca
esse império longínquo
sonha um prenúncio e um vinco
ao sarfar o mar que cerca
 
Vamos no redondo da onda
projectados ao mar do longe
cara de santo ou de monge
e é esta ambição que sonda
 
Teremos um novo destino
capitães do mar do longe
esta língua que se esconde
numa igreja com sino.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Desamor - Daniel Cristal


Uma noite de paixão sem amor
é um triste remedeio, sujeição
à desilusão e à traição
permeável ao suor da eterna dor
 
Nada se compara ao sentimento
duma atracção alquímica ou afim
que define o que é não e o que é sim
e que resiste ao guião do incerto vento
 
Um coração que sente a solidão
sujeita-se à escolha sem acerto
e a viver quase sempre no aperto
 
Mais vale renunciar a uma paixão
evitar a experiência da incerteza
do que fazer do amor uma fraqueza.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Amo-te - Daniel Cristal


Nos teus meus braços, somos o esplendor
do amor absoluto, o candor
do mundo noutra cor e noutro som
com laços impolutos noutro tom.
                     
No lábio, a energia se extasia...
é um fascínio d' afecto que desvia
esse borco da dor co' a face unida
no dia ainda desperto duma vida.
                    
A canção é profunda noutra forma...
É um soneto virgem do teu peito
com rimas floreadas ao meu jeito.
                     
Foge à norma o eco que retorna
como um rio desaguando numa foz
regressado à origem noutra voz.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Àrvore de Natal - Daniel Cristal


A árvore de Natal que escolhi
Criei-a na estufa prò efeito; 
Despida estava quando a recolhi 
Mas fica enorme e bela quando a enfeito.   

Em vez de bolas áureas e artigos 
Comprados com os €uros de papel, 
De ramas de algodão com papai Noel, 
Enfeito-a com lembranças dos Amigos.   

Fica linda esta árvore de decoro!... 
Resplandece o brilho da Amizade 
E o carinho do peito com saudade!   
Ilumina o Mundo pelo coro

 Duma feliz mensagem de esperança; 
É a radiosa imagem duma dança!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal Maquinal - Daniel Cristal


Maquinalmente o menino foi posto, 
Ali, sobre as palhas da manjedoura. 
Todos os anos encontro-o formoso, 
Bem opulento, de cabeça loura. 
  
Olhos piedosos, divina expressão, 
Dois dedos a indicar a salvação... 
Recebe reis que lhe rendem homenagem 
ou somos nós quem precisa dessa imagem? 
  
Outro menino imaginei diferente, 
Pobre, franzino, de tudo carente, 
De ajuda e piedade precisado... 
  
Este, com tanta personalidade, 
Como está, ciente da divindade, 
Não precisa de reis magos, nem de nada!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

À Poetisa Safo - Daniel Cristal


Vieste deusa bela ao meu encontro;
de ti recordo o gesto ágil terno,
o olhar paixão, o beijo logo pronto,
na doce oferta do amor eterno.

A taça erguida nesse gesto lindo,
o gesto frágil com a graça ágil,
a prova dúctil do teu ser infindo,
endeusa o servo como presa fácil.

A essa taça erguida sou fiel;
tu deste cor odor ao brilho fosco,
por isso tenho lábios vinho e mel;

Razão me leva a ser poeta tosco:
tu és a poeta deusa, luz brilhante,
amada minha, sol e lua diamante.

domingo, 21 de dezembro de 2008

A tua humanidade - Daniel Cristal


Se estiveres cansado do mesmo som,
Repete até doer a amargura,
Porque a dor tudo cura; ela é o dom
Que transforma o que é fraco em doçura.

Se tudo for recomeço do que é velho,
Repete este acto à exaustão, e até doer;
Alguma coisa há-de acontecer
Até que tudo seja amarelo.

Só a essência não muda, e ela é muda.
E se o mundo já não te surpreende,
Surpreende tu o mundo pela senda
Da palavra feliz que o transmuda.

Sabor a amargo-doce, menos sonho.
Cumpre-te ser humano até ao fim;
Cumpre-te cumprir tudo no enfadonho
Ou transformar tudo em carmesim.

No fim, ficará a tua humanidade
Que em algum coração foi despertada;
Tudo cumprido na precariedade...
Vida e morte, no fim, são tudo e nada.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

É Assim ! - Daniel Cristal


É assim! Vou à toa com a feliz aragem
da manhã. Um dia qualquer parto
sem saber se regresso. Estou farto
de sonhar sem ingresso noutra margem.

Parto sem deixar rasto nem odor
sem anúncio barato nem alarde
numa simples jangada ou no garbo
com esplendor das asas dum açor...

Assim é: sem ninguém saber porquê
desfraldo as velas brancas contra o vento
e rumo até ao belo firmamento.

A aragem da manhã que ninguém vê
nesse fresco e feliz momento brando
traz a força da Alma ao meu quebranto.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amargura, não ! - Daniel Cristal


Amargo não me tornes por tua causa;
Amargo é que não! Que coisa impura!
Em vez da amargura não futura,
Futura no futuro uma pausa!

Uma pausa que seja uma pauta...
E deixa-te embalar nessa mestria
Que alegra o coração; darei mão lauta
na roda coroada de alegria.

Não invectives mais! Frui deste Bem
Como quem ama o dom da emoção,
E aceita a minha mão aqui também.

O futuro é a flor da branca pomba
Onde canta e dança o coração,
E nenhuma amargura nos assombra.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ser-te até ao fim - Daniel Cristal


Retribuir o carinho com ardor
no gesto, na palavra, no olhar;
expressar o calor do nosso amor
com o cheiro herbáceo pelo ar.

Depois do amor, carícias sem ter fim
na pele que ficou a perfumar
o gérmen da essência; ser assim
alguém que se mantém a balouçar:

A onda ou a crista ou o rio,
ou tudo o que flutua sem razão,
ou corpo com o cio, ou com brio
de ser lua, ou sol do eterno chão...

Ser-te até ao fim, sorte gigante,
e até que a morte seja aberrante.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Hoje vou cantar o verbo amar - Daniel Cristal


Hoje vou falar dum sentimento puro 
Não vou enredar ninguém nas minhas poucas frustrações 
Que já nem entram sequer nas minhas orações 

Hoje vou procurar presentear pureza de sentimentos 
… A misericórdia só a tem quem anda a semear ventos 
E quem precisa dela colhendo tempestades e tormentos 

Vou falar-vos ao invés dum sentimento puro 
Este com que a gente olha o mundo 
Sem a vergonha do muro imundo 

Hoje não preciso de orações rezadas aos pais eternos 
Nem às mães eternizadas no amor 
Nem preciso de usar a minha complacência 

Porque nada me dizem as palavras misericórdia nem benevolência 
Dado que vivo no agir amando duma ciência 
Construindo elos que unem a humanidade 
 
Elos vastos dum global cordão umbilical ultrapassando 
Espermatozóides e óvulos de que as mães 
Se apropriam pela emoção contra a razão 

Hoje eu quero falar-vos dum sentimento são 
Aquele que levanta e destrói qualquer alçapão 
E germina na felicidade do coração 

Hoje não adiantam quaisquer queixas contra a maldade 
… Só vê maldade quem nela vive 
E não sabe distingui-la da felicidade! 

É dum sentimento puro que vos quero e vou falar 
Sendo a base do agir amando a humanidade 
Não se fazendo vítima da iniquidade 

Há tanto amor neste mundo e só não o vê 
Quem dele não tem discernimento 
Nem dele tem merecimento 

Hoje é um dia especial, umbilical 
Não é dia de ressentimentos 
… Só os tem quem enviesa sentimentos 

O que nos está dentro é um sentimento puro 
Desconhecido do ser mais imaturo 
Aquele que levanta em cada esquina seu próprio muro 

Só é infeliz quem não age amando 
E já não se estranha todo aquele que se queixa de vez em quando 
Duma suposta infelicidade e a vai chorando 

Quem se vitima se deprime se frustra se definha e reza uma oração 
Tem falta de saber, interiorizou a ciência deformada, não vive na razão, 
Desconhece o que é amar agindo e nunca será amada 

Pois, amigos, estou falando dum sentimento são, da entrega do coração 
Num mundo de gente que age e vive amando 
Ao lado de outra que deveria pensar nisto de quando em quando! 

domingo, 14 de dezembro de 2008

Tudo tão fácil - Daniel Cristal


Nem precisa é a fala
Mas tão só a postura do ser
E a linguagem absoluta
Do olhar...

Todo o resto, é deixar
Seguir o curso natural do amor
Que nos faz acontecer
Pelo saber.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Realidades - Daniel Cristal


Tenho um leme de pinho, sou beirão,
nato e crescido a olhar a serra e o mar!
O delta que afamou a nossa região
vem desaguar na ria Aveiro-Ovar...

Na laguna não há ondas marítimas,
é tudo manso e ameno, tudo pleno,
é tudo milenar e sabe a mar,
e no lugar do sal, sabe a feno!
 
Tem moliço quais algas nutrientes,
terras negras e férteis de pastagens,
e cachopas trigueiras e nubentes
prà ocasião devida das selagens.

Por isso, não é em vão que invoco o leme,
que fende a onda adversa, e nada teme!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Teorema - Daniel Cristal


Onde estão esses homens de escol,
os homens de valor acrescentado?
Onde estão que não os vejo sob o Sol,
estarão escondidos no sobrado?
 
Não é preciso rezar bem amiúde
para que Deus resolva o problema,
Falta é uma escala prà virtude,
falta a boa escolha dum teorema:
 
Quanto mais mulher houver a governar,
mais o mundo será civilizado!
Nem é preciso haver o verbo amar...
Quem ama só precisa ser amado!
 
E o teorema é simples, não se dane,
tão simples que espanta não ser obra!
Não é Deus que nos falta, não se engane,
falta é uma elite bem virtuosa!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sou Feliz - Daniel Cristal


Busquei-te e encontrei-te, sou feliz...
O que mais desejei, eu encontrei,
celebrei-te no poema que te fiz,
como fez Salomão enquanto rei.
 
Teu nome está escrito no meu céu,
soletro-o com todos os seus sons;
por ti não me importo de ser réu
numa causa de amor que envolva dons.
 
Este excelso amor não é terreno,
é mais religioso que profano,
e porque ele é tão puro quanto ameno,

renova o que é mago cada ano.
Busquei-te e encontrei-te, sou feliz,
e se um dia te perder, perco a raiz.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Contacto..


Prometi o contacto e fiquei à espera duma resposta. O contacto é feito, e decorre normalmente, a resposta é que é mais complicada. O diálogo é custoso porque há residualmente receio de decepcionar e o que é mais complexo é começar a convivência nesta circunstância, na sujeição a alguns condicionalismos. De facto, não há a intenção de fazer deste blogue um diário, pois o objectivo não é esse, mas dar a conhecer poesia com padrões de estesia, mais ou menos elaborada, em moldes diversos, sem fundamentalismos. Os meus pares são também consequentemente bem-vindos a nele serem integrados, se acharem por bem ou tenham interesse nisso. É possível até que se constitua neste percurso, mais cedo ou mais tarde, uma equipa de redactores e estetas que se lhe ajuste, e partilhem a sua feitura ou o recheiem com produções suas; provavelmente uma exploração de temáticas com interesse para a estética literária hodierna. Contudo, fundamentalmente, nesta altura, torna-se importante o diálogo ou as manifestações neste blogue expressas ou até mesmo em privado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Reencarnação - Daniel Cristal


Preciso de outro corpo que sustenha
o brilho da firmeza, tida outrora,
e que guarde esta alma com a senha
duma senda vivida nesta hora...
 
Preciso de emigrar, de transumância,
de nova encarnação num outro corpo,
porque este já não firma a elegância,
e a um fácil desafio cai de borco.
 
Preciso de dizer um obrigado
a todo o amigo-companheiro,
e despedir-me assim do ser amado...
 
Irei voltar na forma de um obreiro
que continua a obra inacabada,
recordando a senha decorada.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Seja Utopia ! - Daniel Cristal


Seja esta a utopia: um rei cristão 
à porta do Islão - um Preste João 
procurado por Pêro Covilhã 
- missão da emoção que não foi vã...
 
Porque na realidade foi o mote 
da intrépida gente que abriu 
a porta do Oriente por mar e bote 
configurando a foz de cada rio.
 
Regresse ao futuro o português 
cantado por Camões na epopeia 
vencida a abantesma desta vez!
 
E que volte o orgulho nesta veia 
soprando a fama e a Língua de Pessoa 
da Etiópia utópica a Lisboa.


domingo, 7 de dezembro de 2008

Ritualizado Não ! - Daniel Cristal


Brincamos nesta vida à cabra-cega
com fantasmas da mesma pantomina;
pois brinquemos então perante a morte,
foice que sega a sina fraca ou forte!

É nisto que vertemos a existência:
um riso assustado na incerteza,
a farsa do assobio na angústia,
a essência da destreza nessa acústica.

Ritualizado, não! Desde criança
que invento a palavra até ao fim;
danço com ela e brinco num festim...

E por aí vou tal cúmplice da pândega
na subversão do acto normativo;
pretiro o pão pela alma no ser vivo!

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Néctar - Daniel Cristal


Lembro-me que havia vento, e a cortina
movia-se como folha de videira;
era asa de seda à nossa beira
e eu co' a tua imagem na retina...

E também havia o som que encanta a dança;
abraçado ao amor, o nosso passo
dançava o acorde desse laço
que ata o coração e o amansa.
 
E foi assim p'ra toda a eternidade:
o vento a afagar o cair da parra,
a asa a transpor o cais da nossa barra
e a retina a amar-te a identidade...

E mais ainda: foi o néctar desse mosto
que embriagou a vida ao nosso gosto.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Sós - Celia Lamounier de Araújo


O Blogue está aberto a contribuições; esta aqui inserta foi-me enviada há pouco manifestamente para este efeito pela Poetisa brasileira Célia Lamounier de Araújo, companheira deste espaço virtual desde 2000, parceira de alguns momentos de feliz convivência especialmente no Grupo Ateneu. Foi também uma adjuvante honrosa e prestigiante noutras ocasiões em que alguma polémica pela Internet se gerou, sentindo-me eu muito grato pelo seu apoio e lealdade. (DC)

(no meu livro: Entardecer de Lágrimas - 1978)
 
De novo a sós,
Sentindo frio
Olhando a solidão
Que se faz ao redor,
Pensando... em nós.
 
De novo em nós,
Vivendo na incerteza
De um triste adeus,
O desejo de voltar,
Pensando... juntos...
                 A sós!
 
"Pelicano do amor, dilacerei meu peito
e com meu próprio sangue os meus filhos aleito;
meus filhos: o desejo, a quimera, a esperança."
                             Machado de Assis 
 
 
http://www.celialamounier.net/
 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Consórcio - Daniel Cristal


Por testemunha, o Deus dos meus enigmas... 
por abóbada azul, o céu marinho e alegre, 
e, por tecto, a frondosa árvore da vida, 
trazida das paisagens de cor luxuriante; 
nas janelas, cristais vindos do arco-íris. 

Por envolvência criou a Virgem, uma lira... 
Nosso consórcio foi assim: Vinhas vestida 
com sedas brancas, rendas níveas com relevos, 
e eu trazia fraque, lã de caxemira 
ao altar do universo, no meio de efebos. 

Futurecia o sonho todo realizado... 
Tudo foi tão virtual, que foi real no prodígio 
do tapete estendido aos nossos pés, trazido 
de Carrara... o mármore mais esbelto e límpido, 
que servirá um dia de porte à nossa esfinge. 

Às vezes há um mito novo supradito... 
Foi tudo tão virtual, que a pedra deu lugar 
à nossa plateia real, olhos turquesa e lua 
trouxeram alegria e amor ao nosso lar, 
e quando isto acabar, Beleza será tua.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Há dias - Daniel Cristal


Há dias em que o mundo anda às avessas, 
Dias e dias fragmentados, dias aziagos, 
Dias onde não há magos nas travessas, 
Dias em que o oceano invade os lagos. 

Há dias muito tristes, solitários, 
E eu que os não revelo, também sofro 
Do Mal que vai grassando em lados vários 
E o ar parece encher-se de enxofre. 

Há dia que valia bem não ter nascido, 
Dia em que os sepultados nos perseguem, 
Dia para esquecer ou ter morrido. 

E é neste fado triste que lamento 
Mais este dia perdido! Oh, entreguem 
O vosso sentimento à voz do vento!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Mudança Veloz - Daniel Cristal

  
O ritmo da mudança é veloz, 
mais veloz, nesta era, do que dantes, 
e há sinais de esperança nessa voz 
que não acolhe anões, mas sim gigantes. 
  
Não cito os gigantes corporais, 
mas gente com a alma muito bela, 
pronta a dar ternura por demais 
e capaz de ajudar a quem apela... 
  
A quem apela, a quem muito precisa 
duma ajuda premente no acidente 
que por azar turvou a sua vida. 
  
Cito, e volto a citar, a boa gente 
que dá neste momento a sua mão 
e faz do ser carente o seu irmão.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Um pouco mais - Daniel Cristal


Um pouco mais de asa, seria ave, 
um pouco mais de vento, ventania; 
estou sempre aquém da melodia 
com o tom que abre a pauta nesta clave. 

Um pouco mais de asa em movimento 
e seria uma ave ou astronave, 
capaz de implantar o amor suave, 
seja onde for e em qualquer momento. 

Entrementes, fico sem o argumento 
de tudo ser possível ao relento 
dum dia que decorra muito lento... 

Só mais um pouco de asa ou de vento, 
e eu teria o Sol na minha mão 
e a Chuva p'ra germinar o coração.

domingo, 30 de novembro de 2008

A estrela - Daniel Cristal


É um evento - uma grande estrela
surgida por cima de um pinheiro,
que nos faz querê-la, e só em vê-la
os nossos olhos ficam num braseiro...

Ficam na ânsia espanto ou brasa rubra
querendo alcançá-la para sempre;
ficam os olhos rubros... Ninguém os cubra
porque vêem o futuro todo dentro!

É um evento - ver todo o futuro dentro
e querer reflecti-lo para fora
como se toda a vida fosse o centro...

Enorme estrela essa, que demora,
a estrela de todo o ser feliz!
- Basta vê-la e segui-la na matriz. 


Vem, Amor ! - Daniel Cristal


Receio que as palavras não digam tudo

que sejam o sinal do surdo-mudo
que não tenham a força do vulcão
propulsão dum foguetão ou astronave...

Receio que finde a força do entrudo
do grito que se extingue ao meio dia
do dia mais extenso de Verão...
vem amor, vem na bela forma de ave...

Vem, amor, vem, que iremos de barco à vela 
ou nave espacial ou caravela
às estrelas mais distantes raiadas
e daremos canções por terminadas...

Que não digam tudo as palavras
é o meu receio, amor, por isso vem,
vem misturar-te à canção que criaste
no meu coração, harmónio do além...

Harmónio do além, harmónio soando
a um coração dolente, feliz
por ter amado tanto, tão intenso
amor, que só no céu é flor de lis !

É flor de lis, amor, flor do brasão 
lá no céu argentado, projectado
que foi o sonho lindo da canção
que uniu o harmónio ao coração !


sábado, 29 de novembro de 2008

Ilusão - Daniel Cristal


Que lindo foi, e é, o renascer!
Que maravilha é a simples queda
duma gota de água a aquecer
o degelo, e o verde sobre a pedra.

É tudo um milagre, enquanto dura,
nesta vida de perdas e rebentos;
é um milagre de água e de verdura,
ou um vestígio de arte e ornamentos.

Na senda d' aventura, barco e vela
soprados pelo vento da ilusão,
nem sempre nos será eterna e bela;

Porém, vamos tentando, enquanto dura;
alguns perder-se-ão, mas outros, não,
crescendo na ilusão o que perdura.

O coração - Daniel Cristal


Feriram o órgão que lateja
com o centro da terra; golpearam-no
por inveja do dom que Deus me deu
mas não o bloquearam nem ataram

Porque não é possível bloquear
nem atar o que é matéria livre
pronta a se esforçar no dom de dar
o que é da humanidade com calibre

Feriram este órgão que se chama
o coração, e incendiaram a alma
que logo o recompôs, lavando a lama
e tornando-o mais belo em cada alba

É um jardim o coração florido e
nasce uma flor quando outra houver morrido...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bruxedo - Daniel Cristal


Não há bruxas nenhumas, mas que as há,
há; bastará que fales em florestas
e logo se vê caras tão velhacas
a seduzir criancinhas nas suas festas!

Fazem caldo de sapo com cacau
de cobra e bife gordo ratazana,
mistura-se um quilhão de lobo mau
num óleo peçonhento barbatana.

Pós de piolho megera, filamentos
de aranhiço, veneno de tortulho
ao som de lenga-lengas para surdos,
mijinhas de coiote com pimentos;

Ficam à espera assim de qualquer criança
que se abeire feliz e disponível
a um macabro rito que não é dança;
mas, que medo me mete, este bruxedo!

Evasão - Daniel Cristal


 
Eu tenho que voar um dia
ir em busca dum oásis
ir pra nunca mais voltar
encher ano de alegria
 
Hei de ir na forma de ave
disparado pràs estrelas 
ao vê-las hei de querê-la
de manhã com luz suave
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Voarei ao seu encontro
faça chuva ou ventania
tomarei a melhor via
não importa até que ponto
 
Pode ser asa do vento
uma miragem real
o céu quiçá virtual
o Olimpo em movimento
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Mas será destino certo
na evasão do amor
projecção de esplendor
no teu coração aberto
 
Pode ser num foguetão
num avião ou veleiro
Pode ser veloz luzeiro
ou disco em propulsão
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Porém irei onde esteja
fim do mundo se preciso
perco-me no seu sorriso
e sinto que ela me beija.