BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Carpinteiro José - Daniel Cristal


Que simpático o José 
Parecia bailarino 
Vivia com muita fé 
Tinha corpo franzino! 

Ele era homem pacato 
Trabalhava com afinco 
Era humilde de facto 
A casa dele era um brinco 

Como gostava do José! 
Era de aspecto franzino 
Estóico de boa fé 
Corpo belo pequenino! 

Casado com minha tia 
Admirava-lhe a mão! 
Que mão apurada tinha! 
Nunca lhe faltou afeição... 

Que simpático o José 
Parecia bailarino 
Vivia com muito afã 
Tão pequenino e franzino 

Com a plaina alisava 
Qualquer madeira rugosa 
E co' verniz que lhe dava 
Assim ficava lustrosa 

Quatro filhos bem crescidos 
Duas mulheres e dois homens 
Bem nutridos parecidos 
Sãs figuras então jovens. 

Nos arraiais (era certo!) 
Trazia com ele os jograis 
Um sorriso sempre aberto 
Seu harmónio era demais 

Como gostava do José 
Ele era homem franzino 
Estóico de boa fé 
Corpo belo pequenino 
Em casa ao entardecer 
Havia sons de alegria 
Risos de bem-querer... 
Hoje são nostalgia! 

Carpinteiro José mestre 
Querido do povoado 
No tempo morno ou agreste 
Exercitava afinado 

Tinha mão que apresentava 
Dedos encantadores 
No acordeão dedilhava 
Canções de eternos amores 

Nele o José musicava 
Os sons mais fortes e frágeis 
Tirolirando cantava 
Dedos finos dedos ágeis 

Que simpático o José 
Parecia bailarino 
Vivia com muita fé 
Tinha corpo franzino! 

Tocava bem o José 
As modas da minha aldeia 
Os dedos do próprio pé 
Cadenciavam em cadeia! 

Ouviam-se ecos num fio 
Pelas colinas do rio 
Cantigas ao desafio 
E canções em corrupio 

O seu mister foi mistério 
Foi madeira torneada 
As suas notas, minério 
Da existência realizada 

Era um estóico este mestre 
Comia numa tigela 
Vencedor do Inverno agreste 
E todo o frio que gela 

Quando morreu este mestre, 
Morreu na aldeia a magia 
Na dor de algum cipreste 
- A mais bela poesia! 

Foi então que nesse dia 
Em que seus dedos pararam, 
Morreu também a alegria 
E cobriram-no de cravos! 

Que simpático o José 
Parecia bailarino 
Vivia com muita fé 
Tinha corpo franzino! 

Ah, carpinteiro beirão 
Mestre do acordeom 
Tinhas mestria na mão 
Tal a madeira com som! 

Digitavas no marfim 
Do acordeom que fizeste 
As pautas belas sem fim! 
Tanta alegria nos deste! 

Ó ti mestre carpinteiro 
Acordeonista a valer 
Tinhas o dom do feitiço 
Encantavas qualquer ser! 
Fosse num simples madeiro 
Fosse no harmónio a soar 
Tinhas prodígio altaneiro 
Fazias donzelas casar... 

E como foste (que grande perda!) 
Numa noite 
Com luar 
e os lobos 
angustiados 
a uivar! 

Levaste o nosso carinho 
Quanta beleza nos deste 
Azedou por ti o vinho 
Numa invernia agreste! 

Com ele morreu a alegria 
Na minha aldeia natal 
De luto ficou a poesia 
No meu rincão natural.

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