BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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domingo, 31 de maio de 2009

Nova gesta - Daniel Cristal

 
Aos poucos construímos o futuro,
apressados - às vezes, outras - menos,
dado que nunca temos a certeza
de que escalado o muro, tudo é puro.
 
Passamos a existência à procura
da utopia mais pura ao coração
que dela se extasia, sol que assegura
a contínua alegria desta noção.
 
Há uma alma dentro da essência
que convém despertar... um tal poder
que fruído pode ser uma ciência!
 
E quando a descobrimos, pode ser
o nosso recomeço, uma festa
que nos ampara a mão em nova gesta.
 

sábado, 30 de maio de 2009

Dançaria, então, nos teus passos - Daniel Cristal


hoje, amor, gostava de ir passear
contigo na mão pelos bairros pobres
gostava, amor, de te mostrar as caras
dos meninos reguilas com cara de fome
gostava nessa altura de ser a divindade pura
a que reparte pães que não tem
mas multiplica-os por cem
 
e não chegaria para todos certamente
porque a fome é milenar
mas o gesto seria só uma carícia
de irmandade ou delícia


gostaria amor do teu sorriso certamente
espontâneo radiante
nesta fome milenar pelo amor
não só nosso... mas também do universo
 
nem o verso consegue irradiar tanta melodia
sermos crescidos na vida de toda a vida
sermos grão e criança e velhice desmedida
e adultos de coração multiplicado
 
eu queria amor ir por esses bairros de bocas esventradas
dar-lhes o pão que sobra nas cearas dos vagões deitados ao deus-dará
ver mais uma vez crianças renascidas num sorriso único
queria que tua mão me fosse tão leve
que a melodia irrompesse perene
 
queria que a minha carne fosse peixe de sobra centuplicado
pela oração que se dobra
e saciasse nossa fome e harmonia
 
só depois cantaria dançaria
em qualquer prática duma divina eucaristia.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Amizade / Inimizade / Falsa-amizade - Daniel Cristal


Depois de algum tempo de meditação, cheguei à conclusão que o inimigo não existe. É um subproduto criado pelo espírito conservador. Por uma ideia de afirmação de valores que não aceitam a novidade que se transmite. A forma para existir apenas se concretiza se se verter num conteúdo. Ou ter um molde que a contenha. E por isso digo: o inimigo é uma ideia que só se despoleta por oposição, mas sem oposição não existe. Não enfrentando a inimizade, ela passa despercebida. Vive num submundo, é subterrânea, marginal, coabita mal no seu mundo fantasmagórico. 
O antídoto para esta suposta eventualidade, é passar ao lado, viver e rodear-se com e de amigos. E se houver perseguição, por mais insistente que seja, o mundo é largo, e passamos adiante. É a actuação que fazemos perante um diabo inexistente no nosso supermundo. Ele não existe para nós porque não coabitamos com ele, nem lhe reconhecemos identidade. 
A inimizade não precisa de comemoração, ela é uma ideia falsa. Existe sim o desacordo, a diferença. A inimizade só se imagina te quando a aceitamos como real. Porque ela é um mal desnecessário, e perde todo o seu poder pela hipocrisia sobretudo conservadora desvelada. Ninguém aceita a mentira, a jactância, a má-formação. E os que dela fazem o convívio diário, maldosamente, não são aceites no mundo saudável e artístico, e por isso ela é inócua. Não vale a pena perder tempo a opor-se ao que é dificilmente aceitável. 

Há os que cultivam a inveja, o rancor, o jogo vão do que é fútil, mas é um mundo onde não vivemos, por isso esse micro-universo para nós, não existe. É deles. Joga a seu desfavor. Vejam com que sabedoria o homem cria o dia do Amigo, e despreza o dia do inimigo. A sabedoria exclui do universo a inimizade. Eis a melhor prova para colocá-la nas velharias entre as relíquias da memória. 

Afinal como muitos de vós, os mais avisados, concluí que não tenho inimigos. Nem que eles teimem em ser o que para não são para mim. 
Um inimigo só é, se deixar que ele seja. E não nos dispomos a aceitá-lo como tal. Ele vive num vasto universo, desejoso para ser notado, porém, assim vivendo, em estado de desejo, não conseguirá brotar diante da minha recusa, e irá certamente melhorar de igual forma como sempre tentamos, todos os dias, aprendendo mais um chisquinho. Ele ira imitar esta frequência absorvente e não estará interessado em ser um inimigo que nunca foi, não é, nem será. 
Ele quer ser inimigo, mas não é, porque não deixamos que seja. Inimigos eram os persecutores de ideais novos. Eram os depredadores dos valores da novidade, da liberdade, da responsabilidade e do respeito pelos outros. Eram os inquisidores que perseguiam e matavam ideias e assassinavam pessoas. Hoje não há por cá dessa espécie abominável. Não existem. O mundo tende a ser outro, diferente. 

Quando ele quer ser inimigo, não deixamos que ele seja. E ele apaga-se. Não consentimos que se imiscua, que meta bedelho, na nossa vida. Que incomode, que interpele, que persiga. Trocamos-lhe as voltas, desaparecemos, e ele desaparece também. 
Recolhemos sempre ao convívio da Amizade, os amigos que granjeamos na viagem da existência pessoal, ela é o suporte, a garantia de que a inimizade é uma aparência propensa da fraqueza, da futilidade, insignificante, inexistente por consequência, ela não tem razão de ser, até porque e principalmente não deixamos que seja. Ela é-nos indiferente, o mundo que nos une é o da amizade, da paz e do amor. Não é um mundo de perseguições, vaidades desmesuradas, orgulhos desproporcionados e de estultices frívolas. 
Os Amigos são pessoas importantes para todos nós, procuram ser a nata da Humanidade. Sabem que se destinam à vanguarda do que fica para ser exemplar e imitado. Os Amigos são extraordinários, porque não vivem da fofoquice, da bisbilhotice, do mau-olhado, da crítica verrinosa, destrutiva, frívola. Eles nem sabem o que é um esgar de inveja nem de cobiça. Não exercem o gesto obsceno como esse de excluir uma pessoa importante ou extraordinária do nosso convívio, ou uma pessoa que se preza do seu saber exemplar e por ele é admirado. 

A inimizade é um subproduto forjado duma cultura que denota enfermidades várias. Mas não existe realmente. Só existiria se consentíssemos que existisse. Na realidade é um mundo subliminar que vai perdendo o sentido de ser aquilo que desejaria ser, mas não é. Nem se lhe concede o estatuto da sua existência. 
Outros concluirão como nós. A existência de inimigos é uma miragem, nefasta diga-se em abono da verdade. Na realidade não existem. São subprodutos fabricados na nossa mente que ainda não viu nem experimentou tudo. Eles seriam o que autorizamos que fossem, e por consequência não são veridicamente. Eles procuram viver dum sofisma tradicional que não tem mais razão de ser, e insinuam-se para se afirmarem pela diferença. E só mantêm uma diminuta e virtual estatura possível, porque os deixamos considerarem-se como tal. 

Outros concluirão certamente como nós, depois de alguma maturação. Só existe aquilo em que acreditamos. E nós deixamos de acreditar no que nos pode acarretar a bruma da maldade. A crença na existência de inimigos, é uma miragem nefasta. Na verdade, não existem. Apenas parecem ser para se afirmarem contra, e se consentirmos que se considerem como tal. Mas desconsideramo-los. 
E repetimos: os inimigos não existem, são um subproduto potencial irreal, virtual, inventado pela sua afirmação. Pela necessidade de se tornarem visíveis e afirmativos pela diferença que não lhes outorgamos. Logo, não existem. 

Eles parecem ser desse modo, por não lhes concedermos o valor que requerem sem validade. Só nós o podemos validar. E recusamos a sua validade. Deixamos inelutavelmente que se enganem, pois um dia chegarão à conclusão, idem aspas, que se enganaram, e têm de mudar o seu comportamento e o seu estatuto, nunca aceite. 

Interiorizado este preceito: os inimigos extinguem-se. Serão hipotéticas almas danadas, atormentando quem acredita em recantos de mar de expiação de culpas, de pecados e perseguições fantasistas. Definitivamente, não acreditamos neles. Seria acreditar em fantasmas que racionalmente não existem. Com efeito, eles vestem-se de roupas brancas ou pretas, escondem-se nelas, deixam dois buracos para que só se lhes veja dois olhos, mas quando despidos são inofensivos, envergonhados, não nos fazem mossa nenhuma. 

O inimigo não existe, tire isso da cabeça, ele navega num espaço irreal, porque o anulamos. 

Sabes quem te deixará morrer num naufrágio? Não é o teu inimigo, porque sabes que não existe e assim te conduzes, e consideras a sua existência noutro micromundo inventado, o de fantasias que não fazem mal a ninguém porque são previsíveis na sua irrealidade, e também te afastaste dos potenciais sucedâneos. Quem te deixará naufragar? Pode ser, isso sim, o teu falso amigo. Com esse deves precaver-te, porque é o mais perigoso. Esse ajudará a afogar-te mesmo no momento em que menos esperas e mais precisas duma mão adjuvante. 
O falso-amigo é mais perigoso porque é falso, não é verdadeiro, e não é um amigo de igual modo, e por consequência nem é falso nem é amigo: é um ser que deixa de o ser, se com igual arte o anularmos pelo mesmo processo de separação e rejeição. Anular um falso amigo é fácil, basta algum pouquinho de tempo de espera até ele se revelar. Ele revela-se numa ou noutra palavra que se lhe escapa inadvertidamente, à socapa. Por um gesto que notamos ser forjado; por uma das suas palavrinhas forçadas, aquela que se lhe sai da boca traidora, e que não corresponde ao seu pensamento, nem à sua postura. É um estado de parecença que se descortina, se estivermos atentos. O falso-amigo revela-se nos mínimos pormenores para quem se habituou a estudá-los, a observá-los com acuidade. Com efeito e em suma, eles são bastante fáceis de identificar e uma vez identificados deixam de existir, porque os anulamos, procedendo, nós no momento próprio, como procedemos com os inimigos. Não percorremos com eles o mesmo trajecto. O nosso percurso é o do convívio com os Amigos. Com os bons-Companheiros. Aqueles de quem nos orgulhamos. Os que nos prestigiam e nós prestigiamos porque têm valor. São o escol da Alegria pura, da solidariedade original. Esses mesmos que todos vocês estão a imaginar: os que se diferenciam por um estatuto inefavelmente positivo, e são tão reais, tão próximos que até pelo odor exalado por eles, os reconhecemos. Por eles antevemos um Futuro feliz. Somos na sua companhia felizes, e seremos continuamente. 

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Orgasmo - Daniel Cristal


Vamos cantar o orgasmo
- Sim, o orgasmo, não fiques
Com essa cara de pasmo
Ou essas beiças de asno!
 
Não há orgasmo que não
Contenha uma centelha
De pasmo e perdição
- Céu que não é maldição!
 
O pasmo de se estar
A gozar o verbo amar...
 
É nesse instante que vemos
O quiasma... pernas atadas
Os corações abraçados
As almas celestiadas!
 
É tão fácil o pasmo
De amar bem um quiasma,
Que, se nele não houver
A plena satisfação,
O homem parece um asno
e a mulher um balão!
 
Por isso, pensai um pouco
No que vos ides meter,
Só não goza quem é louco
Ou falta-lhe muito saber!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Os meus mestres! - Daniel Cristal


Que carpinteiro exímio era esse homem são! 
Que perfeição saía da sua mão! 
Oh, meu tio, querido em toda a região, 
Que belo som saía do seu acordeão! 

Era um acordeão feito pela sua mão 
- Pois era carpinteiro dos perfeitos - 
E as notas que tocava com paixão 
Colhia a magia dos bem feitos... 

Que saudade me inspira o carpinteiro! 
Com que confiança encheu este meu peito, 
Que alquimia me deu nesse madeiro, 
Que minha mão está presa à dele pelo jeito! 

Presa sim, assim como à do ferreiro 
De Pintim, torreão escondido 
Num vale ribeirinho, faceiro, e obreiro 
De lendas que me ficaram no ouvido.

O ferreiro era o meu avô Caetano 
Que na bigorna fazia coisas espantosas 
- Torcia e retorcia o ferro como arcano 
E tinha a fama das pessoas milagrosas! 

Da sua mão saíram foices e gadanhas, 
Âncoras, quilhas, navalhas e espadas, 
E quando as recebia gastas das façanhas, 
Decorava nelas estórias sempre amadas. 

E versejava alegre ilustres feitos 
Cantava cantigas belas, deslumbrantes! 
E o meu tio como mestre dos perfeitos 
No harmónio as tangia radiantes! 

Que sorte a minha - ter avô e tio 
Como mestres de eleição de toda a lida! 
E assim e aqui vou versando em corrupio 
Seus feitos e glórias nesta vida...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dia do Futurecer - Daniel Cristal


Hoje é dia de saudar a Harmonia.
Dia da Poesia bailar ao som da harpa
Feita sinfonia da nau que zarpa
Ao destino da Estrela que alumia.

Hoje é dia da Poesia... Digo: Bom-Dia!
Como é bela a bailia! Digo mais: vai
E entra na roda - e a todos: Entrai
Que mundial é a festa... É uma alegria!
 
Hoje é dia de dizer a todos: Vinde,
Rodai e rodopiai em passo de dança!
Hoje é dia da Alegria... Nunca mais cansa!

Hoje é o dia da Estrela nunca finda,
Nascida da Alegria duma festa;
Dia de Futurecer a nova Gesta.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

AmigAmor - Daniel Cristal


Nos olhos do Amigo, eu vejo afecto,
Nos braços do Amigo, vislumbro tudo...
A Amizade é amparo são e recto
Para anular as mágoas que eu desgrudo.

O Amor é mais forte que a Amizade!
Feliz daquele Amigo que mais ama...
Dúvidas eu não tenho desta verdade
Por ter AmorAmigo como chama.

Quem não tem Amigo nesta vida
Reduziu-se à curta dimensão
Da triste e desflorada margarida...

É serpente que vive na areia
Quem não tem Amigo nesta vida
Ou esse AmigAmor que se granjeia!

domingo, 24 de maio de 2009

O Soneto - Daniel Cristal


A Nau de Portugal lá vai e ruma!
E exulto ao dizer: cabe-me a proa
Num Oceano encoberto pela bruma
Que o soneto clareia quando toa.
 
 A terra que por cá cavei com suor
É semelhante a tanta doutros lados!
O fim é ela mesma... é altar-mor
Do Deus-Maior na dor dos desgraçados!
 

Altar onde se pede o sacrifício
Imolando o interstício do cordeiro
Na marcha baralhada por tom pífio.
 

 O meu soneto é o som que calcorreio
- Clarifica o livrete que falseia
E é de toda a Terra o seu correio.

sábado, 23 de maio de 2009

No esplendor - Daniel Cristal


Tudo veio assim breve como a brisa:
brancura a colorir cabelo basto,
agora belo e raro, alvo vasto,
uma ruga na cara que não alisa...

Tudo foi imperceptível (não é crível),
tudo bem devagar, no dia-a-dia,
uma tristeza após cada alegria,
nem quero acreditar... subi de nível !

Ao nível do etéreo, ao espaço
onde tudo o que faço, é elevado
à dimensão do que é pra sempre amado...

Nem quero acreditar no espelho baço,
na ocasião feliz deste amor
que me prende a ti no esplendor !

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quem dera - Daniel Cristal

A TODOS OS MEUS AMIGOS QUE SE FORAM ANTES DO TEMPO CUMPRIDO
 
                 
Como uma flor, ou como um belo fruto,
O existir tem seu tempo de esplendor,
Um tempo que se perde entre o langor
E o ardor, e entre o imenso e o diminuto...
 
Ficamos sempre presos à infância
Clareando na distância o que é confuso;
E o tempo colorido e difuso
Perde-se na memória duma criança.
 
Na adolescência informe o ser cresceu,
E na juventude bem se temperou,
Sendo feliz quem bem se madurou,
E quando maduro a Deus agradeceu.
 
Mas é triste ver partir quem foi vivido!
Quem deu mais de si do que o exigido!
Assim como ver um fruto carcomido
Contrariando um ciclo incumprido.
 
Pois é: na vida também há tristeza
E sem ela a alegria não seria
O bálsamo que o acaso contraria
Num jogo onde vence a singeleza.
 
Ai, quem dera ser como a flor que floriu
Que cumpriu sua missão e não deu conta
Que a vida é sempre mais do que um rio
Onde existe uma ponte quase pronta!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Carências - Daniel Cristal


Não preciso de muito para ser feliz!
Em primeiro lugar, careço dum sorriso:
O meu espelhado no teu rosto lindo...
Preciso do odor da flor durante o dia;
De noite basta-me a Estrela...
 
Basta a flor - minha Estrela, o ar da manhã,
A graça da feliz criança saudando a esperança,
Esse olhar satisfeito com que vejo o mundo
Pra me sentir contente à espera da véspera
De toda a Terra em mudança.
 
De quão pouco preciso p'ra ser feliz!
Do verde desta terra, d' alegria do Sol
Ou da chuva madura vigorando raízes
Ou dos versos da Lua saudando o arrebol.
Não preciso do que dizes...
 
Não preciso do que dizes: muitas riquezas!
Preciso sim duma alma bem forte e contente
Para ver, observar o rio e o mar e o luar
E de cavar o alimento para o meu sustento;
E dum agradecimento...
 
Preciso é de estar contente comigo e contigo,
Careço da graça de Deus quando agradeço.
Careço de me merecer como humano
Quando todos os dias aprendo a viver
E ao aprender me irmano.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Luz Eterna - Daniel Cristal


Como é bela, a pessoa, sendo casta!
Alta ou baixa, estreita ou alargada,
A criatura é bela quanto basta:
Cabeça, tronco e membros, voz alada.
 
Seu gesto nos revela a (com)paixão
Por toda a humanidade. Tem a alma
Singela, porque é bela! Sedução
No olhar onde a luz eterna se espalma!
 

Como é boa, a pessoa! Parece maga:
Nos cinco sentidos, a sabedoria
Da perfeição terrestre, armazenada!
 
Segue lhe a emoção, a autovia
Do coração, unificando o Aquém
Ao Além no seu Mundo de Alegria.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A Música - Daniel Cristal

 
Ao dedilhar a corda da guitarra
o som purificou este meu verso,
assim como quem ouve o Universo
a embelezar a vida, e nos agarra.
 
Sem ela, sem a música que amansa
o ódio, a revolta ou a raiva,
sem ela que aplaina a rija barra,
o mundo seria marcha em vez de dança.
 
Em cada fímbria do meu ser, o som
da harmonia retine e me extasia,
enquanto o arco-íris pinta o dia.
 
Nem há sabor amargo, tudo é bom!
É bom todo o tom, também o cheiro,
é bom o que tacteio... e assim me abeiro.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Psico-Heteronímia - Daniel Cristal


Quando me olho ao espelho, vejo o ego
Que se reflecte em mim: sou mesmo eu
Com emoções primárias, e não nego
Que respondo por mim; sinto-me meu.
 
Mas se estou com os outros, eles são
Sala de mil espelhos deformando-me
E eu me posiciono na razão
De ser um entre todos balançando-me...
 
Porém, eu não queria ser o próprio ego
Com que me olho ao espelho: um primata!
Também evito ser condicionado!
 
O que desejo ser é não ser cego,
Desejo-me perfeito: outro arcanjo...
Ele é quem me arrebata e me mata!

domingo, 17 de maio de 2009

A Mentira de Verdade - Daniel Cristal


Ninguém diz que engana, e vai mentindo
No mundo onde a morte engana a vida.
E a única verdade e a mais sentida
É termos de enganar um sonho lindo !

No fim, a morte cumpre sem falácia:
Fina-se surdo e mudo como um deus !
Alguém, até mentindo, chora o adeus,
O que (em verdade) é mera perspicácia...

Fere demais a mentira trapaceira,
A verdade da humana invenção,
Aquela que faz doer o coração;

Pois, não pergunte nada à minha beira
Porque mentem e mentem de verdade...
E aumentam a mentira com vontade !

sábado, 16 de maio de 2009

Variações Romanceiras - Daniel Cristal

 
Não vejo esse sonho lindo
aquele que me animava
mas ouço o agoiro findo
da gente que já foi brava
 
Já desbravou outro mundo
já deu umas voltas à Terra
achou no inferno outro fundo
e no paraíso outra guerra
 
Venceu e perdeu no fim
por incrível que pareça
ai que sou triste de  mim
por pouco que o mereça
 
Espero que o trigo nasça
no quintal destas aldeias
um bom trigal que nos faça
o sangue correr nas veias
 
Porque morrer de desgosto
e nunca ir mais além
é vinho de pouco mosto
e pouco gosto também
 
Ide ide minha gente
dar volta ao que o Mundo tem
aqui já não há presente
sabe bem ir mais além
 
Vede os peixes conviver
na humildade do ser
não há quebrar nem torcer
não há ganas a doer:
 
As ganas dessa ganância
a esperteza pacóvia
a patologia da ânsia
escurece a nossa História
 
Não é o rei morto em África
nas areias do deserto
não é erro de gramática
    que mudou o termo certo
 
É a vinda doutro filho
no dia mais desejado
mais uma espiga de milho
exposta no nosso eirado
 
Nem é D. Sebastião
nem um milagre de Fátima
nem mesmo o fado-canção
jogo perdido com lágrima
 
Ide guerreiros sem lança
navegadores d' harmonia
trazei de lá abastança
prà vida com alegria
 
Ide hoje com insistência
ao fundo de cada margem
até ao fim da demência
e ganhai então coragem
 
Coragem de abrir a porta
à postura mais sublime
Por cada prática morta
há outra que nos redime
 
Alvíssaras ofereço
ao gajeiro da Poesia
mereça ele o qu' eu mereço
o fruto do melhor dia
 
Mas qu' espreite o continente
outra praia ou outro rio
onde haja gente que sente
o engano servido a frio
 
'Já vejo' diz o gajeiro
do alto da sua gávea
'vejo lá tanto dinheiro
quanto o dum mestre com lábia'
 
'Não é o dinheiro que busco
nem tão pouco esse teu mestre
não vivo no lusco-fusco
nem vou morrer dessa peste'
 
Na semente semeada
a esperança começa
e na filha esperada
há um desgosto que cessa
 
Essa é que essa na peça
do verso que aporta à Índia
este horizonte não cessa
de ter mais azul ainda
 
'Que vês ó gajeiro agora?'
'vejo um celeiro de trigo
a repartir nesta hora
e não me vou já embora'
 
'Assim sim falas certeiro
carteiro desta Nação
entrega ao mundo inteiro
a parte igual deste pão'
 
Não foi o gajeiro o demónio
qu' estoirou noutra história
foi um humilde campónio
deixando luz na memória
 
E em vez da estória trocada
do famoso 'Romanceiro'
houve praia bem achada
pelo suposto gajeiro.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não há amor - Daniel Cristal


E vós dizeis: Viver é um acaso,
É um salve-se quem puder,
Dente por dente, dê pra onde der,
A guerra traz a Paz, a dado prazo!
 
Nascer, viver, morrer a curto prazo,
Prazo que o deus da guerra determina
- Sinto a agonia dos mortos com má sina,
Um choro de inocentes neste caso...
 
E não enxergo o fim para a desgraça,
Valas comuns de mortos nossos mártires
Que amanhã são vingados pela raça.
 
E no amanhã sucede tudo igual:
De vingança em vingança se constrói
Um mundo sem Amor, que nos destrói.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Lamento - Daniel Cristal


De vez em quando ponho os olhos no horizonte
E fico imenso tempo absorvido e vazio...
Ponho tudo em questão! Admiro o mar e o rio
E o firmamento oblongo desenhado ponte.

Tudo seria possível... Poderia
Existir uma raça humana diferente;
Poderia existir um sonho com a gente
Que esculpi lentamente numa pedraria.

É então que eu afirmo: sou um negligente
Rude desobediente primata, convicto
De que sou a utopia do mundo e seu mito...

E fico imenso tempo absorvido e vazio
A olhar o mar e o rio e esse firmamento
que firma qualquer deus com quem eu me lamento.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sentimentos - Daniel Cristal


Estou genuflectido ante ti,
balbuciando palavras de amor
no alvor da ternura que antevi,
e reclamo a paixão com meu ardor.
 
Marcas o perfil dócil da prudência;
o gesto é cativante na brandura,
e o sorriso retrata a clemência;
pareces o presente que futura.
 
Revejo-me na pose embevecido
por te falar na simples oração,
e sinto-me feliz e guarnecido!
 
Guarnecido da água e do pão,
que nos farão o chão apetecido:
o trajecto concluído da união.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Gargalhada - Daniel Cristal

 
Dum pedido-desculpa fico à espera
Quando me maltratam sem razão!
Não há nenhum Verão sem Primavera
Nem boa relação sem o perdão...

Se o invejoso me ofende, fico louco!
É uma raiva atroz que me sufoca
Aos apelos de paz eu ligo pouco
E espeto-lhe o ferrão com minha moca!

Mas tudo fica bem tempos depois
Restabelecido fico na carruagem
Que me leva ao destino programado...

Esquecido não fico... Só aguardo
Que o pedido chegue na viagem
E a carroça se ponha atrás dos bois!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Poeta é - Daniel Cristal


Poeta é quem me lê, é quem me sente;
Poeta é quem se emociona e se extasia
Com a poesia mais pura, a Harmonia
Da existência da hora florescente. 

Poeta é quem me sente, quem existe
Como eu a aprender, ou decifrar
Sinais no Holomundo, crendo amar
O que, em todos nós, com Amor persiste.

Poeta sou eu, és tu, quem me elogia,
Somos nós, todos, Poetas, bem unidos,
E esta união é ubíqua em qualquer dia;

Poetas somos, agora e ternamente,
És tu, sou eu e ele, bem ungidos
Por Deus para amar tudo o que sente.
 
 

domingo, 10 de maio de 2009

O Futuro do Sonho - Daniel Cristal


O sonho realiza o Futuro
Um Futuro bem risonho
E é nesse rumo que sonho

Futuro que não é presente
Mas há-de ser permanente
Por aquilo que se sente

Sem Futuro haveria sempre
O mesmo tipo de gente
Num passado intermitente

- Era morrer deficiente
No lixo do ambiente
- Seria finar contra um muro!

Por isso vos mostro ardência
Na concretização do Futuro
E regeneração da Ciência!

sábado, 9 de maio de 2009

Daqui, se fez nome - Daniel Cristal

 
Zeus rendeu-se aos encantos da princesa
Mais bela do Universo... a bela forma
E também o encanto em singeleza
Na leitura do verso que transforma...
 
Seu nome era Europa sendo deusa!
Da Fenícia colheu suas vestes de ouro!
E Zeus tornou-se touro, mas em enfiteuse
Reclamou do Universo o trigo louro...
 
Seu couro de ouro feito não havia igual !
E raptou-a pelos mares tumultuosos
Para aportar na terra que é hoje Europa!
 
À sua cabeça encontra-se Portugal
Que levou a outros cantos belicosos
Uma nau que não navega, mas galopa!
 

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Beijos - Daniel Cristal


Há beijos robotizados
Outros são só bocejos
Outros são arrebatados

Bocejos dispenso-os bem
Só propiciam enfados
Os robotizados também

Eu adoro os arrebatados
Os que exprimem amor fervente
De dois seres apaixonados

Empolgam-me os amorosos
São beijos que jamais se esquecem
São beijos que nos aquecem

Feliz o beijo de amor
Pois o beijo com paixão
Pode ser só ilusão!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Com a rosa - Daniel Cristal


Com a rosa na mão e o seu odor
no coração, não sinto o espinho
cravado no pé coxo, cor do vinho
ou da pena do mocho, sem ter dor.

Com a rosa na mão, sinto o enlevo
duma oração convicta, e no fervor
nos modifica, sendo o amor
a depor no coração novo relevo.

Com a rosa na mão não há espinho
que doa no meu pé boto, nem se sente
o espinho da rosa, nem o piar do mocho.

Porque ela inebria, como faz o vinho,
cresce na luz do dia, afaga a mente,
e dá prazer viver com o pé roxo!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Só Amor - Daniel Cristal


Perante o infinito sou um cisco
Minúscula partícula da bruma
Que o mar expande em ténue sarrabisco
No acrónico ciclo da espuma.

Sou cisco imanente numa chama
Crepitando na Essência do Universo,
E por isso reduzo toda a trama
A um soneto final na alma imerso.

Amálgama é pra sempre o que foi cisco
Onde me sentia deus... Só ilusão,
Porque a ambição é mera pretensão!

Queria cumprir missão de alto risco,
Convicto, sem razão, de ser profeta,
Pois foi o Deus do Amor quem me fez poeta!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eterno Possuído - Daniel Cristal

 
Entre a seara e a horta no fundo vale 
De joelhos rendeste homenagem 
Ao Sol, o milho-rei original... 
Foi assim que recebi tua mensagem... 

Recebi a mensagem como um preito 
À espiga do mundo, o mais fecundo! 
Senti o descompasso no meu peito 
Sentindo tua boca até ao fundo... 

Procurei a maçã do pomar quente! 
Na língua se tornou ervilha viva 
Botão de Rosa aberta à minha frente... 

Foi o Amor do Vate pela Diva... 
Um cálice de Amor em tanta oferta 
Possuído eterno desta Rosa aberta! 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Miragem Colorida - Daniel Cristal


É a colorida miragem no deserto
quando se está sequioso e carente,
uma miragem que abençoa a agonia,
mas não é mais que isso, muito perto.

Não vale a pena confundir o que confunde
porque confundido está quem se confunde;
é como ir na baixa-mar ao seu destino,
ir e velejar e nunca mais voltar...

E por mais que digam que o sonho é bom,
e todos estão ao nosso alcance,
nem todos são assim, e também morrem
por neles vermos só aquilo que queremos.

E porque são miragem, brilham no deslumbre,
mas, a realidade é outra, outra tal e qual
por mais que a queiramos colorida,
ela fixa, a exaurir, a nossa vida.

domingo, 3 de maio de 2009

Mãe - Daniel Cristal


A todas as mães deste, e do outro mundo,
almejo o que desejo à minha mãe:
o meu e o teu bom-dia neste fundo
em que a luz e a alegria tudo têm.

Almejo que ela veja em todos nós
admiradores gratos sem censura,
pois foi ela quem deu à nossa voz
toda a simplicidade na mesura.

A todas as mães vivas que nos amam
e às mortas que cumpriram seu dever,
envio esta saudação com emoção:

Desejo que recebam o que clamam:
a gratidão do ser, mesmo sem ter,
porque delas sobeja o coração.