A verdade pura
crua e nua
é só uma!
E um verso com uma denúncia
é um sinal que se apruma
a voz que se desnuda
e nunca se emenda!
Pode o dinheiro ou o poder
pedir para ceder no verbo
ou no atributo
contudo um verso com uma denúncia
é só um contributo de renúncia...
Emenda não tem !
Ainda que seja só para agradar a alguém
o poeta não bajula nem se curva
nem se pisa nem se turva!
Um verso com uma denúncia, um verso são
um verso puro, nu e cru
nunca tem emenda, não!
A quem quiser calar o poeta da pureza virginal
o poeta que não aninha em temperos de pouco sal
nem teme a fortaleza dum umbral
antigo, poderoso, venerável por mais que seja...
Um umbral capaz de ferir os olhos pela sua grandeza
ou golpear fatalmente como diamante fulminante
bloquear a mente de toda a gente
ou mesmo fazer perecer o poeta num instante
no suposto momento periclitante em que definha
numa cruz animal
aquela instituída pela moral universal.
Ou ainda anular pretensamente o Poeta
que crucifica no verso (sendo este a sua meta)
a prepotência a as maldades desta Terra
com seu Universo.
A quem for sofrido pela loucura desta sina
e quiser calar a denúncia gerada numa vaga de fundo...
A força que não alinha nem no credo nem na doutrina...
Só lhe resta uma ciência cheia de demência
ou uma solução de louca premência:
Mutilar a mão
a mão que faz esta
ou outra sonhada
canção!
Sim, decepar a mão
ao ladrão esfomeado
como se faz nas Arábias das visionárias paixões
e dos fumos dos absintos!
Pois, não foi, também, Cristo que ditou castas razões
e por isso foi a sua voz crucificada
no meio de dois ladrões famintos?...
Todavia, a mão mutilada
a mão sem mais emenda
contém para sempre
uma força tremenda!