BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Falar De, Por Metáforas - Daniel Cristal


O espaço do Poeta é este quem o faz. O sopro, conjunto de muitos ânimos, pode trazer-lhe o seu próprio lugar, ou deixá-lo morrer na secura da sua falta de pujança. O dom, o ser dotado, aquilo a que chamam talento não é produto do querer ser, é algo que provém do imo, do âmago vibrante e ressonante; é a fonte que brota espontânea, explosiva com reservas subterrâneas, transborda sem vontade aparente; isso é a essência da brutalidade, mas é, na sequência, o objecto do trabalho do artífice. Do mineral bruto pode fazer a mais formosa pedra preciosa. Todavia, terá de a trabalhar, burilar. Algumas vezes precisa até de a marchetar.

De vez em quando chega-me via Internet e pelos CTT, não sei bem a razão, nem sei muito bem com que finalidade, poesia do mais variado teor: erudita, popular, semi-erudita, cordel, epopeica, kitsch; poesia, sim, variada, e, ou remetem-na directamente, suponho eu, para que dela tome conhecimento (no início tentaram desafiar-me para que eu opinasse - e ao criticar (a menos conseguida) suportei duras reacções de ressentimento agressivo), ou, em alternativa, para que pudesse e devesse abraçá-la empaticamente. Foi e é muito natural, expedientes deste género, no enquadramento tentado, ainda que, por enquanto, não seja totalmente nítida para mim a intenção suportada. Algum merecimento me atribuem neste meio virtual, e também editorial livreiro, ao ter de ser recompensado com estas investidas de reconhecimento ansiado; diremos algum carisma, que, se calhar, até está empolado, e, pessoalmente não descortino com nitidez o propósito, tudo isto apreciado pela modéstia genética e própria também do meu percurso formativo, no sítio onde não está alheio o estudo da filosofia oriental, certamente a mais conhecida no Ocidente pela Poesia de grandes estetas dessa outra metade do planeta; a modéstia e a simplicidade foram apreendidas nessa outra parte do mundo, que tem sido pouco divulgado deste lado, até ao momento; porém, esta curiosidade minha já advém da adolescência, e tenho-a retomado sempre que posso e muitas vezes a propósito de fenómenos que se dão nesta civilização, onde me situo, e me fazem conceber, tão objectivamente quanto possível, o Homem no seu tempo e no seu lugar, repartido por várias culturas e muitas sub-culturas. 

Apercebo-me até que na remessa de Poesia que me chega aos olhos, outra parte até impressa, há Poetas que admiro. No caso da ciber-escrita, apercebo-me de Poetas que, com desgosto meu, não estão editados nem expostos nas Livrarias mais prestigiadas, levando em conta que verdadeiramente lá deveriam ter o seu lugar. Os Editores livreiros não cumprem bem a função que lhes poderia e deveria estar destinada: editar a melhor Poesia e Prosa, e ela é bastante que se lê nos nossos dias, não obstante, ela estar bem patenteada em muitos Sites e E.Books deste acontecimento revolucionário do presente: o fenómeno informático ao serviço da Cultura e do Entretenimento; limitam-se os ditos divulgadores da imprensa escrita a re-editar as obras já consagradas, e alguns indómitos aventureiros avançam pela edição de um novato, às vezes pela mão de amizades feitas nos salões actuais de convívio cultural. Quem a eles não vai, como é o caso de muitos dos que admiro, está automaticamente afastado do público leitor de livros em papel. Há literatos que nem se importam muito deste estado editorial repetitivo e extremamente limitado... pois, como não vivem da escrita, podem muito bem fornecê-la gratuitamente, sem pedir nada em troca, por 

generosidade absoluta; contudo, no mínimo, é-lhes devido o reconhecimento, que normalmente é dado, com excepção de alguns casos: por exemplo, quando entram por azar em algum grupo atípico onde são cultivados 

com ar de patética soberba, o ressaibo e a aleivosia; pois, também os há bem pronunciados na forma do aprendiz com má-formação; mas esses grupos são logo evitados pelo literato mais digno e consciente do seu valor. Efectivamente, quando os melhores (e friso os melhores) estetas da Net me dirigiram o aplauso, nesse gesto simples e simpático verifiquei que não estava só, nem, tão pouco, menos acompanhado, e foi também devido a esta empatia gerada que deixei de titubear na procura de suportes de aceitação e acompanhamento. Estava por natureza aceite na certeza que havia espaço para admiração mútua, sem mais necessidade de sedução ou enleio, uma procura de espaço onde o estro embatesse ao desvendá-lo contra muralhas de má-formação, vigente ainda na cibervirtualidade, e que, suponho, jamais acabará. Faz parte da pior natureza humana humilhar e menosprezar outro-alguém, sempre que se pode, e ele deixa, essa natureza tal como a conhecemos desde o início da Humanidade, e que evolui com uma lentidão arrepiante.

Ainda muito recentemente fui alvo de ressentimento por não criticar pela positiva a poesia dum poeta que divulga como ninguém em listas de milhares de endereços, o que de mim recebe. Como sabido e público, deixei de comentar a poesia dos meus pares. Apenas digo que gosto quando gosto. Comentá-la seria ocupar eu o lugar que não é meu: e é o do crítico. Quando discorro poesia como arte suprema, apenas o faço para situar a que produzo, e não a que os outros operam. Ao ler António Ramos Rosa, também leio Melo e Castro, seu crítico. E entendo um e outro. Entendo o poeta que cria o seu mundo alegórico na arte que conseguiu apurar pela sua individualidade, e entendo o crítico que devaneia, com bons meios de exegese apreendidos, por dentro, fazendo ressaltar o que ela tem de melhor na expressão patenteada. Normalmente norteia-se pelas linhas de força que irrompem do texto elaborado. Nada é mais natural. A empatia, no entanto, criada pela poesia, é outra coisa; é um efeito que está intrínseco, é endógeno e exógeno, cria forças psíquicas, na codificação e descodificação, na feitura e apuramento, na apreensão, e capta, prende, aprisiona, ou, em alternativa, quase oposta, indefere, ou deixa lassa a corda que prolonga o cordão umbilical duma mãe estética aos filhos (aficionados) gerados numa corrente de ampla generalização do que é manifestado pelo saber, pela estesia, pelo sentimento, pela emoção.

E este estado de coisas, leva-me a falar nesta divagação, com que me divirto (seriamente), no discurso presente, a falar de metáforas.

Ocupar um espaço num lugar tão ocupado, é difícil e complicado! Nada mais nos é exigido e exigível do que ocupar a parte minúscula que nos cabe, se for caso disso. Porque se não for, o espaço vai-se abrindo, pé ante pé. Aos poucos, e muito naturalmente. A flor, a planta, a árvore, que singram, e ocupam o seu lugar, ocupam-no pela sua robustez, por todas as características que lhe são inerentes e as individualizam no momento da sua génese. É a origem do ser individualizado e libertado que virá a ocupar no seu desenvolvimento, a sua dimensão. Mas não depende unicamente das suas qualidades; depende, outrossim, simultaneamente, da qualidade dos outros.

O espaço do Poeta é este quem o faz. O sopro, conjunto de muitos ânimos, pode trazer-lhe o seu próprio lugar, ou deixá-lo morrer na secura da sua falta de pujança. O dom, o ser dotado, aquilo a que chamam talento não é produto do querer ser, é algo que provém do imo, do âmago vibrante e ressonante; é a fonte que brota espontânea, explosiva com reservas subterrâneas, transborda sem vontade aparente; isso é a essência da brutalidade, mas é, na sequência, o objecto do trabalho do artífice. Do mineral bruto pode fazer a mais formosa pedra preciosa. Todavia, terá de a trabalhar, burilar. Algumas vezes precisa até de a marchetar. E de sequência em sequência evidenciar-se-á o modo, a maneira, o jeito artístico de transformar matérias e sentidos pelo aperfeiçoamento. Que jeito lhe dará? Na imitação de todos os processos anteriores, levados a níveis evolutivos? Claro, assim dito para os artífices. Contudo, interpondo uma diferenciação, se for artista. Mas, sendo o esteta apenas um artífice, e este pode não se deixar ficar por ser apenas isso, é no estado de suplantação e refinamento que se gera o artista-esteta; nasce a obra de Arte ao individualizar a mais profunda subjectividade e o que nela é incomparável. A mão, o pensamento, a sensibilidade, a potência do saber acumulado, determinam o lugar ocupado ou a ocupar. E este abre-se pela naturalidade, ou seja, pela natureza da sua individualidade vincada no deslumbre.

Desde o simples artesão que sabe muito bem ocupar o seu espaço, e tem-no certamente garantido numa sociedade em que a cultura é o que é, não me alongo mais para não deixar aberturas por onde haja razão para ficar sujeita à depreciação; este estado conjuntural hodierno que vai perdurar por mais uns séculos, se, diga-se em abono da verdade, o planeta aguentar todas as barbaridades que lhe fazem ao vandalizá-lo e depauperá-lo como tem acontecido ultimamente, até ao estado do verdadeiro artista que metamorfoseia matéria e espírito, havemos de nos entreter com toda a espécie de Arte, dada em avanços e recuos, formais e substantivos; essa é a riqueza da diversidade, tal como a vemos hoje. As vias são múltiplas, o espaço abrangente. Quem cativa o artista? Quem adere à sua arte? As respostas são fáceis de obter; e estas traduzirão em primeira e última instâncias, o nível cultural de cada reacção manifestada. E entre os dois pólos divergentes numa distanciação que nunca é bi-polar, quem consegue o verdadeiro estado de empatia, consegue também servir de medianeiro na transformação da existência objectivada na melhoria da condição do Homem neste planeta; por ser pobre, e atávico em preconceitos e arquétipos milenares, quer enriquecer o estereotipo precedente numa evolução lentíssima, à custa da pobreza que nunca deveria ter existido.

Não é a primeira vez que o digo: a Arte vive da alegoria, depois dos dadaístas e do simbolismo nesta modernidade, e agora mais do que nunca. Porém, ela já provém da Idade Média, e é patente nas parábolas da Bíblia, e anteriormente, no tempo faraónico (ressaltada na esfinge e outros ícones conhecidos). A alegoria que tem o poder de fazer compreender e nessa compreensão ser apreendida nos planos da inconsciência, da subconsciência e da consciência, funciona melhor do que o texto denotativo e linear.

Thomas Moore (1774-1854), o mais célebre revolucionário renascentista, assim entendeu a criação da sua mensagem surpreendente, admirável e apologética. As parábolas de Jesus Cristo, o melhor comunicador do seu tempo, não são alheias a esta percepção, frisada e comentada pelo seu discípulo Mateus, 13-13. Aliás, na poesia oriental (desde a antiguidade), ela é utilizada pelos melhores estetas (ver Rabindranath Tagore), ou, na actualidade, Kahlil Gibran; a parábola, para quem a entende amplamente, é idêntica à alegoria, mas, na sua construção, não se socorre do mesmo artifício; enquanto aquela expõe um mundo paralelo com sentidos muito idênticos ao real, esta vive da ficção paralela e não sai desse mundo fictício. Nos dois horizontes imagísticos a simulação é real, e a realidade cria uma outra apresentada viável e possível; na sua apreensão fica aberta a possibilidade dos simulacros concretizarem-se mediante a alteração do arquétipo conservadoramente consciencializado, sendo o horizonte novo motivador dum novo arquétipo que se desenvolve no trajecto que vai da inconsciência à consciência, depois de ter vencido o estado subconsciente, e tornando-se perceptível na irrupção duma nova acção comportamental atípica, princípios e valores novos que podem irromper quando menos se espera; a nova acção, regida pelo novo arquétipo, é depois imitada nas relações inter-pessoais. E finalmente generaliza-se num círculo de mestres, expande-se pelas comunidades pela nova consciência, abrangendo de sequência em consequência uma (i)limitada universalidade.

1 comentário:

KrystalDiVerso disse...

Bem que eu gostaria de construir um comentário capaz de merecer tão sólida eloquência !... Neste frio Maio que atravessamos, estar coberto de razão deve ser aceite como um conforto só ao alcance de alguns!... Em você, meu caro, o frio não parece conseguir entrar!

Só vou fazer um reparo: O parágrafo que em baixo transcrevo pareceu-me demasiado longo para que fosse uma intencional repetição. Mesmo que bem inserido no contexto que dá um seguimento perfeito.
É o parágrafo que se segue:

“O espaço do Poeta é este quem o faz. O sopro, conjunto de muitos ânimos, pode trazer-lhe o seu próprio lugar, ou deixá-lo morrer na secura da sua falta de pujança. O dom, o ser dotado, aquilo a que chamam talento não é produto do querer ser, é algo que provém do imo, do âmago vibrante e ressonante; é a fonte que brota espontânea, explosiva com reservas subterrâneas, transborda sem vontade aparente; isso é a essência da brutalidade, mas é, na sequência, o objecto do trabalho do artífice. Do mineral bruto pode fazer a mais formosa pedra preciosa. Todavia, terá de a trabalhar, burilar. Algumas vezes precisa até de a marchetar.”



Bom fim de semana



Abraço