BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ANSIEDADE CONTIGO



Onde estás, meu leão... estarás nessa praia,
Que doira de amor, à espera de mim?
Estou sim, ó tigrina, eu estou nesta praia
Deserta de ti, num anseio sem fim!

Mas não sei como ir, há montes de vento,
Eu ardo de febre, tenho fome de ti!
Mirro de sede, minha tigrina, estou ao relento
Meu amor, não demores, na onda que ergui!

Estás à espera de mim, não sei como ir,
Enlouqueço de anseio, ó grande felino!
Na praia me mirro, ó doce tigrina,
Não sei porque morro, anda me ensina!

Eu quero ser tua, eu quero amar-te,
Com urgência, leão, amanhã será tarde...
Não esperes mais, eu quero ser teu,
Vem na estrela cadente, ou no sopro d'Orfeu!

Eu vou nesta Lua, ou nesta oração,
Quero ir e beijar o teu coração...
Estás tardando em chegar, na aurora polar, 
Não demores, tigrina, já tremo no mar!

Aí vou meu leão, meu sonho de jade,
qual estrela de verde na nossa união!
Não demores, tigrina, que tenho vontade 
De bem te sorver na escuridão!

Dez/2001

sábado, 17 de setembro de 2011

Mea Culpa



Eu não sou nada, Senhor,
Sou uma pedra perdida
Numa pedreira sombria.

Eu, eu não sou nada, Senhor,
Sou uma estrela ferida
Num horizonte sem dia.

Eu, eu não sou nada, Senhor,
Sou uma ave cativa
Posta aqui por engano.

....Que pena tenho dum anjo
Morrendo no infinito
De quem a mãe não tem seio!

Perdoai, Senhor, perdoai, 
Mas eu já não creio em nada,
Nem sequer em mim já creio...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Psicobiografia



O meu nome é Armando, apelidado Figueiredo.
Com ele só prosando à sombra de algum vinhedo,
Ver-me-eis escrevendo.

Uso porém dois altérnimos, para exprimir o que sinto
Daniel é o mais terno, um hedonista retinto
Eugénio é o seu términos.

Términos de certo desgaste, Epicuro quase asceta,
Um Horácio quanto baste, quase estóico este poeta,
A limpidez do esteta.

Sua poesia corre o mundo, Angola, França e Argentina,
No Brasil é onde abundo, Portugal é minha sina
E aqui Pierrô e Columbina.

Desde adolescente que escrevo, fui formador de docentes...
Exilado em Londres e Paris, querrilheiro entre macondes,
No peito as armas de Avis.

Casei e procriei e dei amor. No Estado encontrei opositor,
Chacais perseguiram-me com dor, coagindo-me a ser outro condor,
Que ao verso dá a sua cor.

No Outono da vida e trapaceando-a, ao Verão retorno quando quero,
Sendo cada vez menos Armando e mais Eugénio, arcanjo vero,
E é nesta diversidade que sou uno.

domingo, 11 de setembro de 2011

ARTE DERROTISTA OU ARTE EDIFICANTE ?


Não é totalmente activa e convincente, a asserção de que o artista tenha que escolher a sua via estética pelo optimismo ou pelo pessimismo, pela positividade ou pela negatividade. Em face das opções: a Arte triste, negativa, depressiva, misógina e deprimente, ou a Arte alegre, positiva, edificante, empolgante, construtiva e construente, ele é levado pela sua interioridade psíquica a escolher. Está em causa nesta tomada de posição estética reactiva, a sua meninice, a adolescência, a aprendizagem, a sua particularidade emotiva, a sua idiossincrasia. Mas, se há particularidades que merecem respeito e reflexão, não há dúvida que estamos em presença de um dualismo capaz de arrebatar movimentos e confrontos saudáveis.

Quando Goëthe escreveu o Werther, o ambiente social e cultural estava propício para entender e admirar Beethoven, seu precursor na Música, e equacionar na vivência quotidiana o sentimento liberto de constrangimentos e amarras, a fantasia, a nostalgia, e o sonho do amor absoluto pela nova escola ambicionada: o romantismo. Da leitura deste livro resultaram muitos suicídios. Houve leitores, que se reviam no protagonista, e em presença do desfecho da narrativa, acharam que deviam também solucionar os seus conflitos sentimentais pelo suicídio. No fundo, era uma geração nova que despontava e se firmava, em luta contra a arrogância e o despotismo do tempo do 'Iluminismo' aristocrático, cerceador da liberdade de escolha nos sentimentos e nas relações que afectavam os jovens. e não só. O mesmo aconteceu quando o 'Romeu e Julieta' apareceu em livro na Literatura anglicana. É, com efeito, deste modo, que após Kant e a sua gélida filosofia racional, a juventude alemã abriu os horizontes para outras experiências, mais humanas, propagando o movimento pela Europa; essa juventude europeia que assim se deixou apoderar pela apreciação sensorial e artística duma outra expressão nova, que vinha a produzir os seus efeitos na melodia da sonata 'Ao Luar' ou na 'Quinta Sinfonia'. Era outra vivência vivida ao vivo, uma expressão estética que iniciava a sua nova apetência de viver um mundo diferente e revigorado.

Mas a ilação a extrair deste fenómeno geracional é sobretudo uma lição de escrita, a sua relação entre emissor e receptor, que se pode converter numa tese defensável. A escrita metamorfoseada em Arte pode influenciar o estado anímico do público leitor e/ou auditor. Tanto pode agarrá-lo pela emoção e destruir nele o gosto pela vida, como pode levá-lo a amá-la e a aperfeiçoar o seu desempenho existencial no sentido de cultivar o prazer de a abraçar todos os dias. Se lermos a poesia do 'Só' de António Nobre, somos levados a ser impregnados da sua visão triste de encarar a existência, porém ao lermos um livro cómico, irónico ou sarcástico, o efeito é oposto: rimos dos defeitos, rimo-nos de nós-próprios. Ora, aqui está um bom tema para ser desenvolvido. De que lado estamos nós neste dualismo? Estamos numa barca de tristeza que transportamos para os outros inconscientemente, de desolação, de pessimismo, de lamento e queixume, ou transferimo-nos por vontade própria para outra, onde a amizade é preponderante, e a força da alma tende a fazer espalhar entre todos a vontade de entre-ajuda, de alegria no amor conjunto, na prossecução animada de vitórias sobre as adversidades.

O raciocínio e a emoção possuem a expressão comunicativa na voz, porém para que perdurem, precisam de ser plasmados na sua visual representação gráfica. Lemo-los na escrita ou na película reproduzida. E se se trata de Arte, eles podem ser transmitidos em vários géneros instrumentais. O que se respira pela emoção a um nível mais profundo do que a percepção racional, é o aroma de agrado ou desagrado, e o que pode ser uma coisa ou outra, depende das educação, instrução e formação de quem o capta ao exercer a descodificação da obra em presença. Todavia também se pode aprender a alterar, aperfeiçoar e purificar o modo de apreciação, e o que hoje é cheiro estranho ou esquisito, amanhã pode ser cheiro agradável, adorável até. O que é preciso nestas matérias, é abrir a mente à compreensão e aquisição de novos meios de aferição pelo estudo que leva a uma maior amplidão dos fenómeno e prazer estéticos. E digo mais ainda: o que hoje pode agradar, amanhã pode não agradar assim tanto, tendo em conta o que se aprendeu e adquiriu intelectualmente entretanto; pode até tornar-se repulsivo. A matéria visada e o interesse devotado são vertentes determinantes duma evolução que não possui términos ajustado.

Contudo, voltamos ao dualismo inicial: estamos prontos a distribuir amor, influenciar pela positividade, pelo carinho e pela ternura, ou estamos barricados no nosso narcisismo e prontificamo-nos a chorar sem parar, para que a nossa amargura amargue por simpatia e osmose, como se fosse uma absorção anímica da impureza, os outros que nos lêem e inconscientemente se tornam amargos também?

Há uns tempos li uma reportagem sobre um dos bons cantores portugueses, chamado Vitorino. A certa altura este disse que não gostava de ver os quadros de Paula Rego porque os seus quadros mexiam com a sua sensibilidade, e atormentavam-no de noite, a seguir à observação dos mesmos. Ora, é isto mesmo que se pretende questionar: se a Arte pode gerar tormentos, ela pode também edificar novas emoções de modo a transformar o receptor num emocionado amigo da construção de sonhos belos, temperadores da natureza humana. Estarei eu enganado? Suponho que não para bem desta tese, cujos limites são balizados pelas pessoas leitoras, únicas mediadoras, eventualmente aptas a poder trazer restrições à expansão da alma numa abrangência dificilmente limitada.

Um caso evidente, entre muitos, da influência da Arte nos estados de alma dos cidadãos e sobretudo na juventude, é o da poesia de Manuel Alegre. Depois de eu ser incorporado no Exército obrigatório, como miliciano, em Mafra, as viagens que efectuávamos do Porto para aí, eram feitas de automóvel. Nelas ouvíamos cassetes de música onde estava gravada, entre muitas, a 'Trova ao Vento Que Passa'. A sua audição empolgava-nos (éramos quatro jovens a compartilhar os custos da viagem no automóvel de um deles). Essas canções ajudavam-nos a
aguentar, com tenacidade, a voz da resistência, e mantinham em nós a esperança da mudança; instigavam-nos deste modo a manifestarmos particular e publicamente a oposição ao regime político, na expressão do nosso descontentamento e desacordo, facto este preparatório do ambiente geracional e social no sentido de fortalecer a revolta, e especialmente para que ela acontecesse quando estivesse madura, como efectivamente sucedeu.

Sabemos também que a Arte ao serviço da guerra, do banditismo ou da maldade, é nociva e pode ser devastadora. As artes áudio-visuais são disso um exemplo flagrante. O incitamento à violência, a exposição do interior mais selvagem do homem, como uma particularidade de algo sinistramente poderoso, a cultura da morte marcial a pretexto rácico, religioso ou vingativo, a exploração da habilidade no manuseamento de armas mortíferas, a instigação ao exercício de formas oriundas da malvadez patológica, a instrução no exercício de instrumentos com o uso da perfídia em relação ao crime perpetrado, aguçam o engenho dos que sentem predisposição e aptidão para o seu culto. Alguns dos crimes sociais exercidos pela habilidade no uso de roubo estudado, são cópia do que se vê na televisão e no cinema. Nitzsche ao falar do super-homem prepara, sem disso ter a completa percepção, acho eu, a entrada de um psicopata na Chefia de uma Nação, e este recorre à escrita para afirmar e convencer os seus leitores arianos que a sua raça é superior, e, por ser assim, estaria fadada ao domínio e ao império universal. É um poder macabro, oposto a outro glorioso, esse que dualmente pode ser atribuído à escrita.

Mais empolgante é a voz que exprime o pensamento, a Oratória. Ela levanta e acicata multidões por boas ou más causas. Tem havido ao longo da História, exemplos encorajadores, e outros nefastos à interpretação filosófica da condição humana.

Também não é do nosso desconhecimento que as epopeias dos poetas moldaram e temperaram a alma dos povos a que pertencem. Os gregos e os romanos tiveram os seus intérpretes, os portugueses outro tanto. A somar a estes casos, podemos e devemos acrescentar a influência dos filósofos; estes aperfeiçoaram com a sua investigação as características e as raízes dos povos e das nações. E os romancistas, contistas, dramaturgos, instruíram os seus compatriotas, alguns até abrangendo cidadãos à escala universal, de maneira a melhor se conhecerem e interpretarem defeitos e virtudes do nosso presente e passado históricos, ainda que não estivesse na consciência, nem no propósito, essa vontade de interpretação da condição humana neste planeta, um conhecimento tão amplo, que, quando aprofundado, se torna e permanece pedagógico com paradigmas estatuídos e fixados nos diferentes estados e períodos sequenciais da Humanidade.