BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

E se de Repente... - Daniel Cristal


E se de repente hoje começássemos
a falar de virtudes, quem contestaria?
Quem diria é falso tudo o que iniciaste:
a virtude não existe hoje em dia...
Dela se fala, mas não se pratica!
 
Por exemplo, dizer 'viva o trabalho'...
O trabalho é o começo dum bom-dia!
Tu mandavas-me logo prò carvalho,
e dirias que a preguiça é que nos fia,
porque é a gatunice que nos guia!
 
E, se, de repente, eu insistisse
que só vence quem vive a disciplina
- erradicando toda a malandrice,
que me dirias tu, menino ou menina?
Dirias que ainda és bem pequenino?
 
E se de repente, o mundo fosse ético,
quem é que o maldiria, algum demente?
Algum louco vidente malquerente,
qualquer pessoa manhosa em ritual tétrico?
Algum esperto com figura de gente?
 
De repente, tudo pode ser mudado,
podemos mudar o curso do acaso,
podemos amar quem precisa ser amado,
e dar azo a que aconteça o caso raso;
o raro caso raso desejado...
 
Quem disse que aprender é uma ova?
Quem disse que morremos sem ter nada?
Que os bens ficam na terra, não na cova,
e que a morte nunca é a esperada?
Quem disse que é a alma que faz prova?!
 
E, se, hoje, iniciássemos o curso
de alguns prazeres da alma, por exemplo:
a leitura do livro do saber
viver num mundo adverso e convulso,
preservando o equilíbrio da mente?
 
Amar o rio, amar o mar, amar
a pessoa que precisa de auxílio,
repartir, dar um pouco do que sobeja,
a abundância acessória ou que seja
desnecessária fútil malfazeja...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Amor de Gemipar - Daniel Cristal


Há um encontro marcado desde o início
uma data de amor que nos consome...
Por ela passo sede, passo fome,
e já não vejo o fim nem o princípio.
 
Dá-me, Deus, o ensejo para amar
aquela que me espera no seu ventre,
e espera que a ame e a contente
na senda dum amor de gemipar.
 
Um amor gémeo, parecido e único,
um amor exemplar, fusão de opostos,
com os olhos e os dedos em nós postos...
 
Há um encontro marcado mediúnico,
uma data riscada a cada instante,
que se há-de encontrar mais adiante.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Outono - Daniel Cristal


Hoje senti o ar fresco do Outono
E fiquei feliz.... muito contente
Por reparar que a chuva fora a dona
Dum dia de alegria desta gente.

Foi brisa refrescante, cheiro suave
A mar, a rio, a erva, a amora,
Um silvo animal, talvez de ave,
Um uivo ansioso entre a flora.

Foi fim do Verão! Agasalhei-me...
Ficou uma saudade bem severa
E uma esperança nova: Não nos queime
O que virá até à Primavera!

O Verão foi de fogo e de secura,
Destruiu a floresta, matou rês,
Matou gente... Foi época assaz dura
Pró povo! Só gozou quem é  burguês! 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Companheira - Daniel Cristal


Advieste na esperança do futuro
muito subtil na extrema confiança
de que a vida pode ser a dança
capaz de derrubar um duro muro.

Adoptaste os deuses que adoptei:
os nossos mortos-vivos, a mãe única,
o amuleto-rei sobre a túnica
pautando a regra justa ou a sua lei.
 
Foste no meio dos mitos, o meu mito,
mulher que me conteve na redoma,
onde vive alegre o teu genoma.
 
Nunca medi o amor... não tem medida!
Preenche sempre a parte da lacuna
como a areia móvel duma duna.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Morrer de Amor - Daniel Cristal


Foste comigo até onde fui lesto
quando te disse estou abandonado...
E mandaste ao diabo todo o resto
quando disse estar enamorado.

Foste comigo numa viagem grácil,
numa viagem cheia de emoção;
vivemos um amor tão belo e fácil
que nos encheu pra sempre o coração!

E, se tiveres saudades na memória,
fica sabendo então, que eu também
não me esqueço da glória da estória,
e dela me recordo aquém e além.

Pois, daria todo o ser pra te rever
sem me importar, então, de amor morrer.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Mais uma chance - Daniel Cristal


Só mais uma. Uma só que seja concedida por compaixão aos homens deste planeta. Uma oportunidade piedosa, uma que seja misericordiosamente concedida por um choro de alma sentida, sofrida, uma chance que será agradecida por todas as fímbrias do ser humano, dentro dos seus interstícios, e aí permaneça para sempre. Uma que seja oferecida gratuitamente para expiar todos os erros cometidos até aqui e agora na viagem empreendida aos trambolhões, aos arrastões, às cotoveladas. Oh, se, mais uma chance, me fosse dada, quanto erro iria ser evitado! Por generosidade, concede esse favor!

Será possível pedir assim ao Deus da Harmonia, mais uma oportunidade para começar de novo? 
Para iniciar tudo do zero, rasar e aplainar toda a tábua, e voltar a percorrer o caminho de uma vida, de uma existência sofrida? Tantos erros cometidos, só entendidos no final de cada um, consciencializados na repetição do mesmo acto irreflectido, consciencializado o engano danoso na madureza da idade, nesta etapa final, neste período de desova, ou do poisio, da libertação, na descarnação, neste tempo final, que agora de nós arremeda, como se fôssemos eternos aprendizes a precisar de um recomeço quando se questiona a substância do trajecto seguido e o modo como foi percorrido, em cada ocasião em que foi necessário escolher, optar e decidir. 

Só mais uma, uma vez concedida pela graça do núcleo divino que nos mantém vivos até ao fim natural de todos os tempos, ou acidental de todos os acasos, sortes e azares, que são pura imaginação ou abstracção insustentável no mistério que causa sofrimento; só mais uma chance, assim na forma humana, sendo a mais ingrata e difícil, mas não para expiar o mal do mundo, e outrossim para deixar uma obra pelo exemplo, uma obra simples, muito leve, etérea, extremamente volátil, aérea, uma existência fluída que fique como paradigma da leveza confundida com a felicidade das coisas puras insustentáveis; poderia até ser larvar, um casulo capaz da metamorfose. 

Só mais uma vez, voltar, e recomeçar. Porém, na consciência do trajecto percorrido, do terreno acidentado que nos levou até aqui, com todas as mazelas expostas das feridas sofridas nas quedas, nas escorregadelas, nas rasteiras maldosas e espertas que nos pregaram, nas humilhações a que fomos sujeitos pela vileza e pela madureza dos inescrupulosos. Na profunda consciência do passado. Não na aventura, nessa tentativa de encontrar o rumo certo, sem conhecimento perfeito das coordenadas mais correctas. Esta não será certamente a melhor via. Felizes os que voltaram com a massa moldada, com o corpo e a alma macerada no passado sofrido! Felizes os que foram verdadeiramente renascidos com toda a acumulação de erros cometidos, deles consciencializados! 

É imperioso voltar, torna-se imprescindível regressar para se consertar tudo o que foi desconserto. Regressar com os erros entronizados, amassados no sangue e na alma; que não está garantido eu ler o que agora digo, no próximo regresso noutra forma e noutra carne... Para minha infelicidade, essa dói-me por não ter a certeza de tudo o que há-de acontecer, talvez nem me seja permitido outra chance igual à que tive, e me deixou às vezes amargurado, outras renascido. Todavia, no fim e no fundo, compreendo todos os ricochetes que recebi, todos os reflexos onde me revi, todos os refluxos que suportei. E confessemos: alguma falta de mestria na escolha, falta de saber no torneamento dos problemas surgidos, falta de cuidado nos momentos em que é preciso firmar o rumo. Não soube evitar o lodo ou o ambiente fétido em algumas ocasiões, não soube evitar a má companhia, e evitar o confronto com os depredadores de almas e bens, os valdevinos, os matreiros, não estive sempre alertado para os perigos da traição, do engodo e da mentira, e não evitei a tempo e frontalmente as serpentes do veneno.

Também aqui e agora. Também posso recomeçar. E recomeço... contudo, num tempo em que me
falha a força da reconstrução integral. Em que tudo é um pouco improvisado pela minha falta de futuro pleno. Esse, pleno de vigor, prenhe de esplendor a que já tive jus, e não soube aproveitar na sua plenitude. Pois que, para meu pesar, ou a minha amargura mais profunda, a luz bruxuleante nunca alumia com a intensidade de um sol em pleno fulgor.

Ah, sim... se me fosse possível regressar agora na plenitude do entendimento, ou amanhã ou depois, a saber o que sei hoje! Seria, certamente um bom regresso, postas de lado as cangalhas que só nos atrapalharam, e tolheram o passo mais acertado, atrasando a marcha e a dança, no sentido inverso da sabedoria, que, esta sim, é a verdadeira felicidade, e enganosa também para quem julgar tê-la obtido no absoluto, porque se está sempre no limiar, sempre aquém, contudo, ter consciência disto mesmo é cumprir a evolução que nos é proporcionada. Ai, quem me dera, criá-lo, como um paisagista, neste espaço concreto, o meu jardim interior, e partilhá-lo com os que, na descoberta, estão simultaneamente dentro!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O nosso S. Caprichoso - Daniel Cristal

 
Este Inverno vai chuvoso
Quatro nevões é de mais
Arredai São Caprichoso
Santo de que não falais
 
Há santos por isto e aquilo:
Santo para toda a tormenta
O santo da Dor aflita
O santo da Morte lenta
 
A santa Maria virgem
O amado são Cristóvão
Santo toda a vertigem
O santo filho dum órfão
 
Oh como vai invernoso
Dia-a-dia chove bem
Guarda-chuva sempre aberto
O pé sempre frio também!
 
Há neve nas terras altas
Ai que nos valha S. Pedro
Perdoai as nossas faltas 
Andamos com frio e medo!
 
Valha-nos nossa Senhora
Ou santa Bárbara ardida
Esta estação rigorosa
tem sina desconhecida
 
Que neve na terra alta
Pra termos boa cereja
Amêndoa da nossa malta
Mais pura que carqueja
 
E que chova no nabal
Do Minho até ao Algarve
Mas chuva a mais na cidade
É amarga praga de alarve
 
E este vento danado
Fustiga a gabardina
Leva o chapéu disparado
Ao céu de cada esquina 
 
Ó santos do meu País
Santos por tudo e por nada
Mandai o Sol neste dia
Fartamos esta chuvada!


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Amar no Intervalo - Daniel Cristal


A energia bruxuleia, meu amor,
uma fraquinha luz do puro ser...
Não há nenhum garrote ou temor
que a faça regressar ou fenecer.

Ela é frágil brilhante quanto a gente;
ela irradia amor, paixão bem quente;
tem um longo caminho pela frente
mas breve se houver um acidente.

Entre nascer-morrer há um intervalo
que é preciso usufruir; pintá-lo com cor
é mostrar que, com dor, pode-se amá-lo.

Amar no intervalo, onde for
que a vida possa ser redesenhada
e desejada em cada alvorada.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adivinha - Daniel Cristal

Para a PoetAmiga Carmo Vasconcelos no Dia do Amigo


É uma palavra simples, muito pura,
Um signo absoluto na essência,
Um sinal com função de sapiência,
E, quando feita verbo, nos apura.

Sem ela não há vida que nos valha;
Ausente, tudo é vão defeituoso,
O homem fica ignóbil perigoso,
E a sua acção mostra a sua falha.

Da palavra ao verbo, a via é fácil:
Basta emocionar o coração,
Viver a humanidade com-paixão.

Mas, sendo ela dentro, o ser é grácil:
Encoraja a viver perto da cruz,
E, contrária ao ódio, jorra luz.

Poeta-Pão - Carmo Vasconcelos

Para Daniel Cristal, querido Mestre, no Dia do Amigo


Ainda não nasceram as palavras
Que haverei de cantar-te agradecida
Pla colheita dos versos que aqui lavras
Poeta-amigo, pão da minha vida!

Tuas letras são remédio que aduba
Tua seara – mente e coração
Tua pena o ancinho que derruba
Ervas daninhas – dor e solidão

Ervas desse teu chão e meu também
Que o mesmo solo habitas como eu
Filho que és da mesma terra-mãe…

Ou não sejas, poeta, o meu irmão
Que o mesmo amor Divino concebeu
E que enlaçou na tua a minha mão!