BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Ampulheta do Tempo


Nesta plataforma propícia à meditação, onde me situo no estado actual,
verifico, com algum pesar e incómodo, que tenho andado algo arredado
do vosso convívio agradável, e dos amigos mais distantes no espaço
geofísico, coincidente por sinal com o mundo cibernáutico;
efectivamente, alguns estragos o tempo tem cometido no meu corpo,
próprios da idade e de alguns relativos excessos experimentados... mas
continuo por cá sorridente, apesar disso. Auto-limitado na acção por
decisão própria, receoso do desgaste temporal, cuidando dos arranjos
adequados aos órgãos vitais necessários, distanciado de projectos.
Apenas gozando o presente, quanto possível! Agradecendo a hora
escorrida em cada momento ao Arcanjo que resguarda e vela a mansidão
dos justos, na ambiência que nos cabe, graças também a vós. É, de
facto, um privilégio viver mais uma hora no interior do bojo do balão
fruindo do vosso saudável convívio...

É uma honra ser acolhido dia-após-dia nesta casa térrea onde
desfrutamos de carinhosa companhia; onde vemos crescer os nossos netos
passo-a-passo diferentes, mais soltos, mais afoitos, mais
surpreendentes, os filhos a tornarem-se adultos, fortes, eventualmente
com algumas cãs raiadas já na cabeleira, as filhas a tentarem agarrar
a felicidade possível, noras e genros a procurarem acertar com o
percurso que leva à plenitude do universo do amor.

Continuo, destarte, por cá sorridente e agradecido... não será por
muito tempo, certamente, no comum conceito de esvaziamento da
ampulheta. Quantos anos de poeira se mete dentro da ampulheta duma
existência? Cinquenta, setenta, noventa? Ninguém sabe quanto pó nos
está destinado, ou quanta energia e quanto tempo foram programados por
força da Natureza, na edificação do nosso élan-vital. Porém, não
esqueçamos, para favorecimento da nossa saúde e equilíbrio mental, que
é só pó, eventualmente brilhante e cintilante, ou areia; pouca
diferença faz, pó ou areia. Se for pó, ele avisa-nos todos os dias do
que nos espera na reversão. Se for areia pode levar-nos a acreditar
que ainda nos resta alguma ilusão da eternidade. Por curiosidade, nem
sabemos muito bem como se processa o milagre do estado contínuo.

Para viver mais uma hora, a partir da meia-idade, é preciso ter
renunciado anteriormente ao exercício de vícios e à prática de
excessos; esses que dão muito prazer sensorial, mas matam ou reduzem a
longevidade. É preciso resistir às drogas, ao tabagismo, aos excessos
de álcool e da comida, ao desregramento nos hábitos naturais e
salutares. São horas que farão falta à vida vivenciada com o prazer de
se estar vivo na plenitude do convívio humano saudável, horas
escorridas pelo orifício da ampulheta, que amaciam a alma com a
brandura da consciência de todos os objectivos cumpridos, todas as
obrigações satisfeitas, todos os deveres resgatados.

É um privilégio estar onde estamos, a ocupar o espaço que nos foi e
está destinado por forças  muito poderosas, sobrenaturais, quase
obscuras; há-de existir algum sentido para que cada um cumpra o seu
destino, algumas vezes num âmbito colectivo, outras individual. Somos
pertença de quem nos fez à semelhança de um deus original que tanto
vive quanto morre, para que tudo continue multiplicado numa ou noutra
parte do Universo, nesta forma e matéria, ou noutra possível, virtual,
casualmente, para nós, até desconhecida.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Amores Sublimes: Pedro e Inês


  Vive Inês com seu amor
  Entre jardins de ternura…
  De todas as cores, a cor
  Que maravilha a ventura!

  Linda Inês posta em sossego
  Numa margem do Mondego!

  Mas mais forte que o amor
  São as razões deste Estado!
  Temendo novo valor
  A perigar nosso agrado…

  Em causa a hierarquia
  Noite posta em cada dia!

  Inquieto está o Rei
  Seus vassalos e seu povo…
  Razões de Estado, que sei?
  Este caso não é novo!

  E no Mondego espelhada
  A sentença lhe foi dada!

  Algozes chegam armados
  Num tropel de guerra aberta,
  trazem elmos bronzeados
  Assassinos pela certa!

  Cuidado Inês vais morrer,
  Mais vale do que sofrer!

  Face àqueles carniceiros
  Diz Inês "Não tendes pena?
  Meu amor é dos primeiros
  No palco da melhor cena!"

  Recusa qualquer degredo,
  Não trairá o seu Pedro!

  "Como podeis, gente bruta,
  abeirar-vos de opróbrio
  contra este amor que exulta,
  porque tendes tanto ódio?

  Doidos carrascos, só tendes
  vis corações de duendes!

  "Inês, Inês, é a hora
  de volver à tua Espanha,
  vai-te daqui para fora,
  foge da nossa sanha!"

  Contesta assim um carrasco,
  O chefe de tanto asco!

  Morre Inês e deixa órfãos!
  Vive Pedro na revolta!
  Empedram-se-lhe os órgãos!
  As mágoas são sua escolta!

  Aguarda que morra o Rei
  Para impor a sua lei…

  Ditou Pedro lei severa:
  Quem a matou era cão!
  E com sua mão de fera
  Arrancou-lhe o coração!

  O Mondego de contente
  Vitoriou toda a gente!

  Nunca houve neste mundo
  Amor tão forte e fiel,
  Amor-contraste no fundo
  Da raiva cheia de fel!

  Uva madura na vinha,
  Viu-se Inês feita Rainha!

  Inês, Inês foi Rainha
  Neste Reino Lusitano!
  Era o amor que continha
  A sina do desengano!

  Pedro foi o vingador,
  Mondego o rio de amor!

terça-feira, 1 de março de 2011

Kervansaray

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Estávamos em Kervansaray (Bodrum – Turquia). O Sol anunciava-se pela luz e pela ausência. A ausência dizia muito mais do que a sua presença. Como acontece com qualquer deus. A luz vinha a caminho vagarosamente pelo céu fora, acendendo o azul e clareando as nuvens que espelhavam a lã alva, revertendo cinza para o contraste. Os montes eram silhuetas, dum outro mundo projectado neste, ganhando forma e contornos.


Quando o Sol nasce em Kervansaray é tão só uma miragem de espera resplandecente. Aos poucos, a minutos contados na sucessão do tempo, as ilhas nascem, como se fosse uma imitação da primeira criação, os seios distinguem-se no horizonte, soerguidos do meio duma toalha de água azul numa redonda gota lisa do tamanho do  horizonte.


Os montes derramam a luz pelas colinas no renascimento dos tojos, dos ciprestes,  dos pinheiros e das oliveiras.

A água apela. O corpo nela penetra e nela encontra o prazer da sua afirmação e do seu vigor, é um acto de amor, abraçado nos movimentos que nos trazem à superfície e nos faz deslocar dentro dela até percorrermos metros e metros da sua extensão infinita. E´ a delícia da natação, que deixa o corpo saudável, agradado pela combustão das toxinas e dos hidratos de carbono. O Sol seguidamente seca-nos, dá-nos o ar trigueiro a transpirar a saúde da satisfação.


A água tépida e o ar quente, uma temperatura variando para uma e outro entre os 25 e 30º centígrados, acolhem os adoradores do Sol, o corpo rejubila. De tal modo, é um paraíso climático que muitos artistas europeus vão acabar os dias da sua viagem terrena em Zorba, a 5 Kms de Bodrum.


Os melhores hotéis abarcam baías de sonho. Apesar da falta de areia, os empresários adornam as bermas do mar com convés de madeira. É neles que os apaixonados pelo Sol e pelo Mar se estiram, com uma vantagem em relação à areia, a de não se sujarem na conspurcação habitual das praias.


Há uma, contudo, uma estória sub-reptícia a contar. Uma estória mais ou menos brejeira, simbólica, melhor alegórica com alguma ironia: a estória do tripé.


O tripé que me acompanha para fixar memórias visuais, belezas naturais, rostos cheios, grandes, pequenos, repletos de infinito significado, animais espantosos  e árvores fantásticas. Rios e regatos esplendorosos. Momentos preciosos. Convívios inolvidáveis. Os que ficam e se fixam para sempre. Até o mundo acabar... connosco! Ele acaba sempre connosco, façamos o que façamos. Os vindouros nos conservam certamente. Se assim acharem por bem...


Pois o tripé memorizou episódios do arco da velha! Ora o esquecia, ora era impedido de entrar nos Museus. O tripé não gosta destes esquecimentos, frutos da idade, nem que o impeçam de afirmar a razão pela qual veio ao mundo. A Rute, a nossa guia, está solteira, morreu-lhe o namorado na guerra curda, na Anatólia Oriental, lá para a fronteira com o Irão ou do Iraque. Quando falamos de amor, ela chora. Por isso, eu deixo o tripé no autopullman a ver se vai com a Rute, se lhe faz companhia, se ela o adopta depois da viagem, mas a Rute não lhe liga nenhuma, e ele ofende-se. Ofendido, confessa-se a mim. Dou-lhe coragem e enalteço as suas virtudes, e ele fica mais satisfeito. O tripé não é coisa que se despreze, é um objecto de precisão, tenho necessidade de o enaltecer, senão não há mais fotografia para ninguém. Ele às tantas amua e faz greve, ou rejeita-me com alguma avaria por ele inventada na próxima madrugada solitária, e concretiza-a na realidade.


Durmo com o tripé, porém para lhe mostrar que não é rejeitado, ele acompanha–me sempre, e se o esqueço logo amua. Há muita gente que não tem tripé, como é o caso do Eurico... quem o diz é a Ermelinda gritando de desconsolo. Mas é só por graça que o diz porque o Eurico tem um tripé que parece uma trituradora. Dispara em tudo o que lhe aparece. É de facto assim, o tripé é tão valioso, é como o Midas que da pedra fazia ouro !


Mesmo nas cidades subterrâneas da Capadócia, o tripé mostrou-se à altura dos seus deveres. A escuridão deu realce às formas retratadas. Que prodígio! Não sei de que época é o mausoléu hitita, mas é uma minipirâmide... será que os faraós conheceram esta pirâmide e um deles resolveu pôr uma enormidade de escravos em Gizé a trabalhar no sarcófago onde viria a ser sepultado?


Não vás de óculos escuros, diz-me o tripé, podes cair nalgum poço destas catacumbas. Eu agradeço. Ele é meu amigo… Ia de facto caindo. Mudo de lentes.


Como passámos perto de Konya por uma aldeia que anunciava quantas raparigas na mesma buscavam noivo, recorrendo a garrafas grandes vazias postas no telhado da casa num lugar que pudesse ser visto dos carreiros e das estradas,  eu disse ao tripé que o ia instalar na praça central pública daquela localidade para chamar as solteiras anunciadas, e com elas namorar, ou declarar-se às que quisessem ser namoradas. Ele acedeu. Numa noite contei tantas que não haveria harém que as contivesse a todas. O tripé achou-se um engatatão, um grande Casanova, um machão, um Marialva de estirpe ribatejana.


Todavia, o tripé foi duma necessidade e utilidade preciosas: serviu-me de muleta e deu pancada nas ruínas de Éfeso à hidra de sete cabeças e a um deus grego, não sei se foi Zeus,  se Apolo (se foi este foi só por inveja), se Afrodite ( se foi  esta, foi só para experimentar se o ditado é fiável, aquele que diz quanto mais  me bates, mais gosto de ti), se Dionísio (se foi este, foi para ele acabar com as bebedeiras que causam cirroses de morte), ou teriam sido as cacetadas que espetou no Santo Onofre, o santo hermafrodita que de mulher boazona passou a homem viril com pêlo na venta e o resto sobejante ? Lindo tripé arranjei, que passou à categoria dum autêntico certificado operacional multi-usos !


Perto de Bodrum, considerando que foi duma inestimável ajuda, resolvi dar banho ao tripé. Ele consolou-se com as águas mornas e puras do Mar Egeu, todavia refrescantes para um corpo muito mais quente que era o dele por ser feito duma película negra. 


Houve ainda e finalmente a Nádia, que lhe deu uma olhadela, achou-o atraente, apesar da idade (o tripé já vai numa idade adulta - um quase nada avançada, vai-se chegando aos sessenta qualquer dia) e deu-lhe uma piscadela de olhos que ia resultando, não fora os compromissos inadiáveis e rigorosos que tinham de ser honrados na viagem que não terminara.


Ai, o filho da mãe, deveria ter mais vergonha, este tripé, não se devia ter metido com a Nádia, essa trintona bem feitinha aparecida a dar-lhe troco e a atirar-se com ardor! Teria ficado decepcionada porque contava com algum sonho das mil e uma noites. De castigo o tripé, sangrador daquele coração parisiense, repousa agora, hiberna, até nova viagem ainda não programada, mas tudo leva a crer que será um outro paraíso...

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Laxismo Diletante Contra O Rigor Literário

(ou a Arte suportada por dois ditos populares: "Quem te manda sapateiro, tocar Rabecão?" e "Tudo enfada, só a vaidade recreia") por Daniel Cristal

Muita vez me confronto com esta dúvida: se vale a pena pensar poesia, discorrer poesia, explicar poesia, contestar poesia. É uma situação em que, quem fala torna-se suspeito porque a pratica ; quem ouve - recebe com olhar vesgo e de soslaio, olha de lado, porque quer chegar à luz da ribalta, e ser reconhecido sem muito trabalho de permeio. Há aprendizes que pensam ter encarnado Rimbaud, esse génio meteórico, precoce, que apareceu (em Paris, onde vivia), e logo convenceu toda a elite artística, no final de sua adolescência... Um prodígio! E é curioso que foi tão aceite e acarinhado pelos jovens que o jubilaram, que logo desistiu, partiu, abalou para outros horizontes, e foi enriquecer no Oriente Médio, lá instituiu o seu harém, constituiu uma frota de camelos, e viveu como um nababo, um paxá, sem se importar mais com a poética.

A mim, parece-me que um dos cernes da questão está mesmo aqui: em que para se ser mestre, tem de se conhecer as regras, as normas, as técnicas, as teorias e o conhecimento, tudo isto junto e parcelado, e depois destas aquisições do aprendizado, preciso é exercitar muito para que se consiga ser apreciado, amado, e adquirir finalmente o mestrado.

Muitas vezes me vem à ideia ou me passa pela cabeça, ou se quiserem me põe a magicar esta imagem: não conhecendo as normas, técnicas teóricas e práticas da Arte musical, não tendo estudado música minimamente, o que vou eu fazer num teclado de um piano? Há quem consiga tocar flauta, gaita de beiços, viola ou violão, concertina ou harmónica, tão só de ouvido, numa pura imitação do conhecido e experimentado pela sensibilidade. Criar, isto é outra coisa. Não chegam lá os imitadores; podem ainda fazer uns trechos musicais que se assemelham ao conhecido, sujeito a alguma originalidade; mas ser Artista é toda uma outra coisa que não cabe em nenhum improviso! Vou ao piano, chego lá e ponho os dedos sobre as teclas. Toco e toco. Sai tudo errado, ninguém gosta, quero fazer crer aos outros que sou dotado, barafusto que tenho talento e sou génio, que sou prematuro, precoce, que sou superdotado... que sou revolucionário, sou rebelde, sou dissidente, sou uma força viva da natureza em estado virgem; grito que não preciso de normas e regras e estudo, que elas não servem para nada, e convenço-me, se não gostam do que ouvem, o defeito é de quem ouve, e não de quem tecla, porque meu receptor é atrasado mental, bota de elástico, velho convencido, invejoso, rabugento...

Mesmo conhecendo as regras, os que ascendem ao escalão de mestres, têm de ir mais longe; têm de optar por caminhos novos; por formas originais ou renovadas, senão a sua arte fica redundante, maçadora, estéril, puerilmente encantatória, irreconhecida pelos entendidos na matéria exercitada. A procura de novas formas, ritmos, sonoridades, imagens, a definição pela maturação dum estilo pessoal, pela definição rigorosa dum idiossincrasia peculiar, é a vida do mestre-criador. A obra-prima possui sempre uma expressão original e identificação peculiar. Precisa de ser incomparável. Basta um só traço para a distinguir e reconhecer de qualquer outro criativo. Uma luta árdua trava-se então para arredar o cliché ou a manifestação artística poluída ou gasta, até que de repente o criador se mostra seguro da sua mestria. E consequentemente um novo mundo artístico de desenha e desenvolve no seu imaginário, cada vez mais facilitado pela aprendizagem consciencializada a que não é alheia a retenção constante de novos contributos, extraídos de cíclicas renovações conceptuais de arquétipos metamorfoseados.

Picasso e Dali foram dois génios, dos melhores do seu tempo, porque eram perfeitos na pintura figurativa e impressionista; desenhavam classicamente como nenhum outro dos seus pares, qualquer objecto; retratavam-no na perfeição, e só quando se apropriaram integralmente de todas as regras, normas, técnicas, teorias, lançaram-se então (ainda muito jovens) na sua própria Arte particular, pessoalíssima, e foram aceites como paradigmas de uma época, caracterizando uma revolução de formas e conteúdos.

Em parte, agora evocando o segundo dito popular, transcrito em epígrafe, e já que foi editado pelo meu amigo Valdez (do Ateneu), Mário Quintana tem razão: "é melhor deixar poetar quem não sabe, do que deixá-lo frustrado a ruminar maus presságios e criar dores de inadaptação". Mas isto é um acto benemérito, solidário, de benquerença. Todavia, ele tem, como afinal tudo na vida, o reverso da medalha: também é um meio de criar ilusões a quem vai, no futuro, sofrer decepções, viver duramente frustrações, por não ser notado no trabalho que faz, nem amado! No entanto, há que dar chance aos que querem tentar e se vão esforçar por ir aprendendo. Com uma aprendizagem metódica e apurada, consentânea com o seu estatuto, vão-se aperfeiçoando para seu bem e prazer de nós todos, nós que precisamos da Arte para sobreviver num mundo enfadonho e triste, e decepcionante e ingrato, às vezes asqueroso e acanalhado. É ela que suaviza todas as amarguras da vida. Que não é fácil nem muitas vezes pródiga a existência, mas também é certo que nela podemos ser felizes, se soubermos enfrentar a adversidade e a agressividade munidos duma, mais ou menos forte, sapiência, colhida e acumulada ao longo dos anos de frustrações e sucessos.

Há outra ideia que me vem assaltando a mente frequentemente: quando começamos a ler uma poesia ou prosa, logo que lhe pegamos, notamos algo diferente (ou não); algo que nos agrada, nos seduz; basta ler os dois primeiros versos, as duas primeiras frases. Ficamos logo colados, atraídos por qualquer aroma de magia. Ora, é este primeiro contacto que define a poesia e a prosa excelentes. Não se julgue, porém, que escrever seduzindo é tão fácil como isso! É exactamente o contrário: demora horas e horas, semanas e semanas (às vezes meses); é um exercício de grande paciência, de suor vertido com algumas "lágrimas" de dor e de amor! É um constante refazer, retocar, nunca se considera perfeito. Lê-se, relê-se em voz alta, voz baixa, murmura-se, até que no fim podemos verificar e certificar que está tudo tão simples, fácil, entendível, cristalino, que parece ser a própria simplicidade natural, a mais cativante, e à qual facilmente todos aderem.

Técnicas, caros leitores, devemos aprendê-las todos os que querem ascender a mestres ou exercer uma actividade artística. Mas ela não chega, todavia, para se ser genial. O génio é também um dom; pertence a alguém dotado, que recorre a aprendizagens constantes e a exercícios longos e aturados (é um trabalho de forja, de lapidação, de espaço de estudo, compenetração e burilação). São exercícios de experiências e mais experiências, de cortes e recortes, colagens, e de abundante lixeira à qual lhe deita fogo de vez em quando. A Arte é uma escola de atributos e qualidades que recriam e recreiam, o Poeta ou o Artista pode, quando muito, querer dar a mão aos interessados na aprendizagem, por simpatia e generosidade. Coisa que até nem é obrigatória! Alguns mestres põem essa ideia liminarmente de lado, por ser uma postura que também contém defeitos muito negativos, insalubres, e com frequência efeitos muito perversos!

E pergunto-me ainda hoje: porque é que os/as "poetas" assim auto-intitulados, não escrevem prosa, e em vez de frases recortadas, paralíticas e trôpegas mal metrificadas, que não provaram a escanção, não editam textos em prosa? Leio textos que seriam belíssimos, se não quisessem aparentar o que não são. Às vezes até faço o inverso, como exercício lúdico: um texto poético transformo-o em texto dito prosa poética, e ambos ficam rigorosamente iguais no seu conteúdo, e tanto emocionam duma maneira como doutra. Será milagre da natureza? Quem estiver atento à transformação chegará à conclusão (estou convencido sem vaidade no que digo), que é um exercício jocoso e sub-reptício para ditar algumas lições, chamadas, vulgar e modestamente, dicas. René Char foi mestre no poema em prosa. Herdou-o do genial Charles Baudelaire. Vale a pena ler e estudar ambos. Os seus minitextos são de facto exíguos, mas significam, nomeiam e arrebatam o mundo todo, os fonemas e os signos respondem-se uns aos outros permanentemente, o ritmo é fabuloso…

Assim é entre outras composições, o soneto, as redondilhas, as trovas, cada texto lido ou cantado pode ser uma obra-prima.

O soneto, é a jóia da Literatura, a meu ver. Uma obra perfeitamente acabada, capaz de ser dita e cantada com ritmo perfeito, cadência impecável, com as sonoridades adequadas à expressão do sentimento e da emoção nas línguas românicas, preferencialmente nestas, mas também nas anglo-saxónicas… Se o trecho significante for, de igual modo, bem significativo, se a demonstração implicar e evidenciar um bom domínio, no respeito pelas suas intrínsecas regras estruturais de metrificação e rimação, e for complementado ainda pelas extrínsecas forças vocabulares, as que compulsam as ideias num recurso a uma variada gama de figuras de estilo do domínio da semiótica, então estamos pela certa em presença de algo valioso. Algo que sai da vulgaridade e pode causar e produzir o arrebatamento emotivo.

Inspiração não chega, diz o meu amigo escultor José Rodrigues, um dos nossos melhores escultores portugueses hodiernos. É só um por cento do trabalho, quiçá o mais importante, 
sendo certamente a marca do génio. Porém a Arte exige, outrossim, muita transpiração! É também e especialmente a parte restante (99%) que completa a obra de Arte - o suor e o trabalho não rogados. Ele não diz, como eu digo, o meu amigo escultor, mas quer dizer, sem margem de dúvida, a mesma coisa. A ordem das palavras (ele diz assim " uma obra de Arte nasce e desenvolve-se com 1% de inspiração e 99% de transpiração") e o contexto é que são diferentes. Ele fala no seu ateliê, eu falo em campo aberto. Ele fala para aprendizes que querem aprender. Eu falo para todos os que me lêem e desconheço o interesse que eles dão a estas matérias literárias...

Quantos têm pensado nisto? Os do ofício, ainda que amador, certamente, estão comigo!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Fernando Pessoa - Daniel Cristal


O Poeta finge a Poesia numa obra,
e finge tanto que imagina ser
o próprio fingimento, pois desdobra
o puro sentimento em parecer !

E, o que parece, é, como a mulher
que, casada com César, não se freia,
e na orgia báquica não finge o que é:
Pompeia condenada por Boa Deia.

De facto ao Poeta nada é proibido:
a permissão da emoção no som
da imaginação, fá-lo querido...

Poeta condenado ao bom tom,
endeusado na obra com sentido,
é digno do ofício com seu dom !

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Perdurar na Divindade - Daniel Cristal

 
É na fusão do amor entre dois seres humanos
Que a divindade é atingida e perdura
Enquanto for intenso o carinho e a ternura
Durante os longos dias vividos sempre ufanos
 
Fruídos nas Arte e Amor  sem pressa nem urgência
Vividos um a um na fruição do corpo
E no usufruto da alma - belo jardim ou horto
Que outrora foi selvagem hoje cheio de ciência
 
Uma ciência que nos leva à origem
Entre o macho e a fêmea - a cópula etérea
Fundindo a psique com o sema da matéria
 
Tanto basta fundir o todo hoje virgem
Nem sempre sendo o original o que é primeiro
Pois pode ser mais verdadeiro o derradeiro.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quando morre um Poeta - Daniel Cristal


Quando morre um poeta, o planeta
sofre o abalo da lava encarnada; 
uma voz é calada e o alfabeto 
fica sem uma letra precisada.

Quando morre um poeta, não é só
o arcano que morre, é também
uma estrela que cai ficando pó,
a chorar como um filho por sua mãe.

Quando um poeta morre, há uma gota
que vem do mar, salgada com o sal
de sangue muito rubro, a linha rota

da colcha que foi bela sem igual.
Quando morre um poeta, o meu olhar
afunda-se na água desse mar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Poeisis e Poesia - Daniel Cristal

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Poïesis é o étimo grego que foi adoptado em latim pelo termo Poeisis e nas línguas românicas pela designação de Poesia. De acordo com a cultura grega, transformada através das suas conquistas na Ásia e Norte de África nesse período pujante do Império helénico, em Civilização; Na origem - «ab initio» - a Poesia não era substantivo mas um verbo. Não era um produto, um acto finalizado por longa descrição ou narração dum fenómeno ou vários numa obra fosse ela pequena ou grande, tais como um texto, uma canção, uma estória. No seu início era a própria acção da criação, momentânea, como se fosse um clipe reduzido à mínima expressão. O poeta poetava ao exercer um acto criativo explosivo, subitamente detonado. Da acção nasceria a obra, à qual nós chamamos hoje inspiração do êxtase captado em poucos segundos, que preencheria a infinitude do deslumbramento.
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Entre os dois significantes há uma enorme diferença. A essência no curto desenvolvimento da acção na forma explosiva, o próprio limiar da acção decorrente e a sua memória captada são o que restavam deste mínimo decurso. Derivando do exposto, esta acção poderia muito bem resultar num signo silogístico com a designação de poetar um só verso, diferente daquele que hoje ensaiamos na Ciberliteratura interactiva recente. Nessa acção não há necessidade de utilizar nenhuma técnica artística, estética, retoque pessoal ou original. Um verso preenche todo um fenómeno minimalista observável e sentido. Esta deflagração concilia a matéria com o tempo minimalista e o homem com o mundo virginal, sendo sempre a metamorfose dum ante que se torna depois durante uns instantes. E reforçando esta ideia pelo léxico posterior obtido, o étimo acabou de forma analógica por ser aplicado na terminologia da Biologia na forma de sufixo; assim é o caso da hematopoese e eritropoiese, que significam: o primeiro, a formação enigmática de células sanguíneas, e o segundo a formação misteriosa de hemáceas. Estas são acções sanguíneas momentâneas, que se operam no sangue para a sua renovação, produzidas em fracções do segundo.
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Neste caso a heteronímia aplicar-se-ia como fosse uma autoria indefenida, não o autor da obra, mas outro, associada às Forças Ocultas da Natureza do Universo, em especial deste planeta, ou numa só expressão: à divindade deificada, que regula a obra que se criou com ela, e com ela evolui ao se ir fazendo com um intuito por ela programado. Quem assinaria a obra não deveria ser o vulgarmente considerado autor, mas um só D, de Divindade ou de Deus, se forem crentes, porque se não forem o D também serve muito bem ao enigma desta máquina energética, que é o Mundo, e que também os ateus nunca conseguirão desvendar.
Platão refere-se num simpósio socrático a Diotima, e descreve a acção Poeisis como um esforço para contrariar a fatal continuação mortal do homem. Todas as definições do termo garantem a tentativa da conquista do belo, como uma espécie de fazedora/criadora, ou fazente/criante.
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Na retrocitada ordem de ideias e seguindo Platão diremos então que na origem do decurso da acção há um movimento que contém três aspectos diferenciadores na signigicação fornecidos nestes exemplos: 1) Poïesis pode ser a cópula destinada à procriação como uma condição para a permanência genética animal projectada ao infinito, 2) pode ser uma acção de heroicidade conducente à glória e fama, as quais são também factores de imortalidade da pessoa, 3) Poïesis como condição anímica inserida no culto da virtude e do conhecimento.
Na verdade, entre outros, Martin Heidegger faz referência destacada a este movimento explosivo e define-o como condutor/levante, ou seja numa tradução mais portuguesa uma acção "trazente/metamorfoseante" com a amplidão máxima possível. E caracterizou analogicamente Poïesis com exemplos: a florescência a florir, a formação da borboleta a brotar do casulo, a cachoeira quando a neve de repente está a derreter. As três analogias dos exemplos de Heidegger, baseados no conceito etimológico, são acções liminares duma imprevista ocasião espontânea e momentânea, bem extasiante. É uma ocasião de deslumbramento igual a algo que se move duma posição fixa, uma acção invulgar e pontual duma cena que deixa de repente de ser o que era ou foi anteriormente, e é em conclusão a visão duma pequena parte holística do mundo que repentinamente se transforma noutra coisa inteiramente diferente.
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Afinal e reflectindo sobre o que disse retrospectivamente, o poeta é apenas um observador, e quando este esteta escreve só o que observa, o mesmo seria dizer que ele é o tradutor de toda a força da Terra comungada com o Universo a manifestar-se através dele; nesse estado ele não é o Autor, mas o intérprete duma súbita manifestação metamórfica. A irrupção dum vulcão poderá ser uma acção poética, assim como o orgasmo que nos aproxima da divindade.
No mesmo sentido o canto do rouxinol é uma acção da poeisis pura espontânea, levando em conta que expressa a beleza muitas vezes esfusiante da natureza. É, direi eu, o diamante bruto que agrada e incita ao deslumbre. No entanto, a poesia deixou de ser a acção helenística com o decurso do tempo para ser um produto pleno de artifícios que só o domínio de técnicas e das estéticas pode fazer deslumbrar «ad extremum». O diamante bruto pode tornar-se o mais belo diamante lapidado (fiz-me entender?). A música e a poesia nascem da poïesis, mas não se confinam à pontualidade de algumas sucessões curtas no tempo; elas desenvolvem-se por toda a obra de Arte: a Poesia e o Romanesco, a Pintura e a Escultura. Porém, o deslumbre vai aparecendo no máximo esplendor à medida que se desenvolve, por intermédio de aperfeiçoamento com recurso a técnicas apuradas e ajustadas (as mais variadas, as mais adequadas, as mais desenvolvidas, sendo preciso também seleccioná-las. Eis que é assim que é gerada a criação (o nascimento) e se expande a obra depois da explosão inicial. Quando Heidegger diz que poïesis é uma acção liminar, o primeiro instante da queda-d'água em cataduta a brotar de degelo, ou o primeiro instante em que borboleta sai do casulo, ele refere-se com certeza à Poeisis do género etimológico, instante de transformação.
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Ora, a poesia como nós a entendemos hoje é a obra terminada depois de depurada, um trabalho em laboratório criativo. Poesia nas línguas românicas, anglo-saxónicas, ou outras quaisquer, é obra ou obras donde nascem permanentemente borboletas e cataratas, virtudes e belezas, vulcões e orgasmos, e todos eles passam pela nossa imaginação na leitura ou audição e por todo o sistema sensitivo das ramificações neurológicas, deslumbra pela variedade de sensações despertas logo despoletadas, dedilhados que são os signos encadeados nas mais diversas formas e nos mais díspares significantes plurissignificativos.
Como estamos a discorrer numa área em que as analogias abundam, as metáforas inter-agem na criação de alegorias, poderíamos afirmar que o amor à primeira vista também aqui tem lugar, a atracção irresistível, e ao falar assim estamos a aprofundar o que é Poeisis; todavia, o amor que a partir daí se desenvolve, a proximação subsequente e o conhecimento mútuo, prazer e paixões, atravessados por compaixão quando o amor vacila, todas estas acções fazem parte de uma Poesia trabalhada esteticamente nos nossos dias. Edgar Allan Poe revelou que escrevia muitas vezes em estado de vigília. Ora bem, aqui temos um processo também primoroso (pelo menos, no seu caso, foi) de exprimir o que é deslumbrante no meio-sonho com a capacidade para deslumbrar quem recebe a mensagem. Vários poetas e escritores dizem que anotam as suas impressões e sensações em papelinhos e depois os trabalham nas suas obras. o processo citado ajusta-se muito bem ao conceito de Poïesis. Também este é um processo magnífico de captação de acções fulgurantes que poderão servir a poesia e a prosa. No meu caso pessoal, muitas das obras nascem nos espaços em branco do jornal que compro e leio diariamente. Há dias em que os perco, mas não me aflijo porque a ideia renascerá sempre numa nova dimensão, o que às vezes é um benefício assaz vantajoso.
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Neste momento surge-me uma dúvida e titubeio para a sua revelação. Quando a língua inglesa usa o verbo para substantivar um tempo relativamente longo, por exemplo o signo verbal Spring que designa primavera, e Fall para Outono (as duas estações que fazem mudar toda a face dos panoramas terrestres, extremamente sedutoras), tudo me leva a pensar que estamos em presença duma herança pan-helénica, com a diferença de que essa acção liminar (nascer/cair) se transforma no tempo na Poesia que hoje decorre por três meses, mais ou menos, uma sucessão de nascimentos e ocasos anuais que maravilham o mundo onde somos contemplados pela vida que nos foi agraciada sem custo nem pagamento cobrado ou a cobrar, seja ela curta ou longa. Tudo o que somos, a nós se deve, e mais vale que seja uma vida longa que breve, se for com saúde.
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Contudo, o volte-face de todo o exposto desde o começo, está nesta revelação que certamente já passou pelo cérebro de boa parte dos meus destinatários seguidores: é que nem a Poeisis grega foi cumprida a preceito no seu próprio País, desobedecendo ao seu étimo. E a confirmação está nas obras de Orfeu Lino, Alceu, Safo, Anaceonte, Píndaro, Esopo, a poesia épica - Ilíada e a Odisseia. A sucessão dos momentos de poeisis é a mesma que hoje exercitamos e executamos nas obras que vamos lendo e humildemente escrevemos numa dádiva escassamente retribuída em dinheiro, bens ou géneros; elas são mormente contenpladas com paga-nula, todavia, apesar desta fatal vicissitude, humanamente indigna, elas são mais conhecidas e reconhecidas (quando boas) do que esperávamos ou esperamos.
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quarta-feira, 30 de junho de 2010

PREFÁCIO de Victor Jerónimo - (para e-book de Armando Figueiredo)


Conheci este grande senhor em uma esquina da net, quando eu ainda deambulava perdido pelas capelinhas da poesia.
Vi-o de longe e analisei-lhe o perfil e logo de seguida embrenhei-me nas sua letras. Habituado a ler os grandes mestres da literatura por gosto e também por força da profissão logo ali o seu escrever chamou-me a atenção. Fui então a essa ferramenta fantástica que se chama "Google" e escrevi, "Armando Figueiredo".
A partir daí comecei a minha pesquisa e fui-me inteirando que este grande poeta, escritor, cronista, critico, professor e muito mais, escrevia sublimemente e ainda mais tocava-me a alma.
Soube que ele tinha uma comunidade "O Fórum dos Mestres Aprendizes" e então ganhei a coragem necessária para escrever a este grande senhor, pedindo-lhe o meu ingresso nesta sua comunidade.
Fiquei maravilhado com a qualidade poética dos autores inscritos nesta comunidade. Quando no Natal de 2003 o Armando Figueiredo publicou um poema com o titulo "A Arvore de Natal" li e reli o poema e atrevi-me a responder em dueto a este grande Mestre da poesia. Pensava eu humildemente que iria ser criticado, mas não, o elogio que recebi guardo-o até hoje com muito carinho e AMOR.
O tempo passou, muita água correu debaixo das pontes e muita chuva engrossou os rios, mas esta amizade e a inspiração que este Homem-Poeta me proporciona tem-me levado a continuar na senda do melhoramento.
Quando recebi o convite do Armando Figueiredo para prefaciar este e-book fiquei estupefacto. Como poderia prefaciar um grande Mestre, eu, um humilde homem que de vez em quando escreve algumas letras? Mas aceitei o desafio e esta tarefa soberba na esperança de não ser muito criticado.
Armando Figueiredo, Daniel Cristal, Eugenio de S. Vicente, ortónimo e heterónimos, cada um com seu estilo mas que nos conduzem a grandes momentos literários.
"Se alguém deixar a mão aberta ao vento,
todo o movimento se lhe agarra
a bordar qualquer tela sem amarra"
in O Liberal (Daniel Cristal)
O Daniel Cristal é o heterónimo mais conhecido e que muitas vezes nos faz esquecer o seu ortónimo, levando muitos leitores a confundirem o homem dividindo-o em dois autores distintos. Quando converso sobre o Armando Figueiredo alguns leitores são peremptórios em afirmarem que não o conhecem mas quando falo no Daniel Cristal dizem conhecer muito bem este poeta e os que conhecem os dois nomes mostram admiração e até duvida de ser o mesmo poeta.
Recordo-me que foi com Daniel Cristal que li pela primeira vez a palavra futurecer palavra esta que um dia irá figurar nos dicionários. Futurecer deu que falar quer em criticas quer em admiração e deu origem a nove poemas escritos pelo Daniel Cristal e um grande numero de respostas em duetos ao autor em torno deste futurecer, mostrando assim o quão versátil é a língua portuguesa e como uma palavra pode entrar na gíria do povo.
"Hoje é o dia da Estrela nunca finda,
Nascida da Alegria duma festa;
Dia de Futurecer a nova Gesta"
in Dia do Futurecer (Daniel Cristal)
Não sei se a memória me falha mas creio ter conhecido o Eugenio de São Vicente, primeiro que o Armando Figueiredo e isto nos finais de 2002 ou princípios de 2003 em um poema, creio que tinha o titulo Tempo de Guerra.
Só muito mais tarde vim a descobrir que o Eugenio e o Armando eram a mesma pessoa. Recordo igualmente ter lido algo sobre o Eugenio e Olivença.
E creio que foi com o Eugenio de São Vicente que nasceu o futurecer
"«Dizemos amanhecer quando a aurora acontece...
Nunca dissemos a palavra futurecer!
Amanhecer é o signo que nunca envelhece,
Futurecer é o novo, que nos fará crescer!»
Eugénio de S. Vicente"
in É Possível Futurecer
No Armando Figueiredo, cronista, contista, critico encontramos ao longo de toda a sua vida grandes temas que ainda hoje são actuais e onde nos deparamos com verdadeiras obras de arte em letras esculpidas por este grande Mestre.
O e-book que agora se apresenta com quarenta poemas de amor, vem mostrar uma faceta há muito conhecida neste grande poeta mas em que só poucos acreditam. O amor fraternal, o amor de amigo, o amor de amante, quantos e variados temas para definir e mostrar-nos através da poesia o amor, amor prolongamento da amizade, amor sublime só sentido por alguns.
"O Amor é mais forte que a Amizade!
Feliz daquele Amigo que mais ama...
Dúvidas eu não tenho desta verdade
Por ter AmorAmigo como chama."
in AmigaAmor (Daniel Cristal)

Somos todos etnónimos vivendo em algum canto do mundo mas onde a internet nos chega debitando os seus bites de letras.
O leitor que tiver a felicidade de ler este e-book vai estar perante um dos Grandes Mestres do nosso tempo.
Ao Mestre, fica aqui o meu obrigado com AMOR por ter-me oferecido a rara felicidade de prefaciar este e-book.
Bem-haja Mestre Armando Figueiredo


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sexta-feira, 25 de junho de 2010

A JOSÉ SARAMAGO (singela homenagem) - Daniel Cristal


A eternidade está em todo o mundo
servo ou livre ou preso do teu corpo
esta vida vivida ao segundo
é capaz de arribar ao melhor porto.

Se não acreditaste, há paciência,
mas tens à tua espera um coro de anjos.
Não crer na fé e acreditar na ciência
só precisa de alguns poucos arranjos...

Em vez de viver o ano, vive a sorte
de tornar o segundo sempre eterno,
expandindo-o até ao fim - morre de amor...

Porque só isso importa em qualquer morte
ter sempre a porta aberta ao amor certo
- o amor vivido perto do esplendor.