hoje, amor, gostava de ir passear
contigo na mão pelos bairros pobres
gostava, amor, de te mostrar as caras
dos meninos reguilas com cara de fome
gostava nessa altura de ser a divindade pura
a que reparte pães que não tem
mas multiplica-os por cem
e não chegaria para todos certamente
porque a fome é milenar
mas o gesto seria só uma carícia
de irmandade ou delícia
gostaria amor do teu sorriso certamente
espontâneo radiante
nesta fome milenar pelo amor
não só nosso... mas também do universo
nem o verso consegue irradiar tanta melodia
sermos crescidos na vida de toda a vida
sermos grão e criança e velhice desmedida
e adultos de coração multiplicado
eu queria amor ir por esses bairros de bocas esventradas
dar-lhes o pão que sobra nas cearas dos vagões deitados ao deus-dará
ver mais uma vez crianças renascidas num sorriso único
queria que tua mão me fosse tão leve
que a melodia irrompesse perene
queria que a minha carne fosse peixe de sobra centuplicado
pela oração que se dobra
e saciasse nossa fome e harmonia
só depois cantaria dançaria
em qualquer prática duma divina eucaristia.
1 comentário:
"Não sou como a abelha saqueadora que vai sugar o mel de uma flor, e depois de outra flor. Sou como o negro escaravelho que se
enclausura no seio de uma única rosa e vive nela até que ela feche as pétalas sobre ele; e abafado neste aperto supremo, morre
entre os braços da flor que elegeu."
( Roger Martin)
Passando para desejar um final de semana com muito amor e carinho.
Abraços do amigo Eduardo Poisl
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