O Poeta finge a Poesia numa obra,
e finge tanto que imagina ser
o próprio fingimento, pois desdobra
o puro sentimento em parecer !
E, o que parece, é, como a mulher
que, casada com César, não se freia,
e na orgia báquica não finge o que é:
Pompeia condenada por Boa Deia.
De facto ao Poeta nada é proibido:
a permissão da emoção no som
da imaginação, fá-lo querido...
Poeta condenado ao bom tom,
endeusado na obra com sentido,
é digno do ofício com seu dom !
3 comentários:
“Glosar” Fernando Pessoa – mais concretamente o tema do fingimento poético, ou o poema “Autopsicografia” – é uma ousadia não sei se alguma vez tentada por outro poeta, mas bem-haja, Daniel Cristal, por a ter levado avante pois o resultado é irrepreensível.
De facto, a leitura deste poema eleva-nos aos cumes do prazer estético - o que só as grandes, mas raras, obras proporcionam.
Parabéns!
Caro Daniel;
Mais um enorme soneto, revestido de uma beleza poética igualmente enorme, só ao alcance dos maiores.
Um abraço.
Um Soneto que provavelmente Fernando Pessoa teria gostado!
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