Solitário caminhante, agapianamente acompanhado pelo envolvimento da plenitude universal, respiro fundo a maresia cheio de iodo. Estendes-me o tapete tecido de prata, um manto de linho que ainda freme a roca do tear, e eu te saúdo ó mar! Como está abençoado o dia! Beija-me os pés no convite ao êxtase e na resposta ao teu apelo. Em ti me alongo, nado de felicidade. com a sensação do risco de ser levado pela forte corrente. Queres-me levar contigo? Para onde, não sei! Para o sargaço? Para o rochedo escorregadio? Ou para Finisterra? Para o fim da Terra como se fosse o fim do mundo... Hei-de ir, mas não agora! Vivo no planeta do lóbulo direito do meu cérebro. Sendo feliz porque nele vivo e existo. Imploro que não faças outro apelo com o teu murmúrio. O movimento que vivencio é o do lago que me espelha. Onda perdida, o vento quieta-se na montanha e no seu arvoredo. Há cisnes que não vejo, mas visualizo na imagem do silêncio... É a felicidade retida no assombro que não mais sai dele pra que a inquietação não mais regresse. Um dia futuro rirás de mim e eu de ti lado a lado, cumprindo-se o ritual: de ti vim e a mim regressarás. Aliás, e também o inverso, o verso e o anverso, na eternidade levar-nos-ás a lugar nenhum.
Daniel Cristal
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