BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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domingo, 30 de novembro de 2008

A estrela - Daniel Cristal


É um evento - uma grande estrela
surgida por cima de um pinheiro,
que nos faz querê-la, e só em vê-la
os nossos olhos ficam num braseiro...

Ficam na ânsia espanto ou brasa rubra
querendo alcançá-la para sempre;
ficam os olhos rubros... Ninguém os cubra
porque vêem o futuro todo dentro!

É um evento - ver todo o futuro dentro
e querer reflecti-lo para fora
como se toda a vida fosse o centro...

Enorme estrela essa, que demora,
a estrela de todo o ser feliz!
- Basta vê-la e segui-la na matriz. 


Vem, Amor ! - Daniel Cristal


Receio que as palavras não digam tudo

que sejam o sinal do surdo-mudo
que não tenham a força do vulcão
propulsão dum foguetão ou astronave...

Receio que finde a força do entrudo
do grito que se extingue ao meio dia
do dia mais extenso de Verão...
vem amor, vem na bela forma de ave...

Vem, amor, vem, que iremos de barco à vela 
ou nave espacial ou caravela
às estrelas mais distantes raiadas
e daremos canções por terminadas...

Que não digam tudo as palavras
é o meu receio, amor, por isso vem,
vem misturar-te à canção que criaste
no meu coração, harmónio do além...

Harmónio do além, harmónio soando
a um coração dolente, feliz
por ter amado tanto, tão intenso
amor, que só no céu é flor de lis !

É flor de lis, amor, flor do brasão 
lá no céu argentado, projectado
que foi o sonho lindo da canção
que uniu o harmónio ao coração !


sábado, 29 de novembro de 2008

Ilusão - Daniel Cristal


Que lindo foi, e é, o renascer!
Que maravilha é a simples queda
duma gota de água a aquecer
o degelo, e o verde sobre a pedra.

É tudo um milagre, enquanto dura,
nesta vida de perdas e rebentos;
é um milagre de água e de verdura,
ou um vestígio de arte e ornamentos.

Na senda d' aventura, barco e vela
soprados pelo vento da ilusão,
nem sempre nos será eterna e bela;

Porém, vamos tentando, enquanto dura;
alguns perder-se-ão, mas outros, não,
crescendo na ilusão o que perdura.

O coração - Daniel Cristal


Feriram o órgão que lateja
com o centro da terra; golpearam-no
por inveja do dom que Deus me deu
mas não o bloquearam nem ataram

Porque não é possível bloquear
nem atar o que é matéria livre
pronta a se esforçar no dom de dar
o que é da humanidade com calibre

Feriram este órgão que se chama
o coração, e incendiaram a alma
que logo o recompôs, lavando a lama
e tornando-o mais belo em cada alba

É um jardim o coração florido e
nasce uma flor quando outra houver morrido...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bruxedo - Daniel Cristal


Não há bruxas nenhumas, mas que as há,
há; bastará que fales em florestas
e logo se vê caras tão velhacas
a seduzir criancinhas nas suas festas!

Fazem caldo de sapo com cacau
de cobra e bife gordo ratazana,
mistura-se um quilhão de lobo mau
num óleo peçonhento barbatana.

Pós de piolho megera, filamentos
de aranhiço, veneno de tortulho
ao som de lenga-lengas para surdos,
mijinhas de coiote com pimentos;

Ficam à espera assim de qualquer criança
que se abeire feliz e disponível
a um macabro rito que não é dança;
mas, que medo me mete, este bruxedo!

Evasão - Daniel Cristal


 
Eu tenho que voar um dia
ir em busca dum oásis
ir pra nunca mais voltar
encher ano de alegria
 
Hei de ir na forma de ave
disparado pràs estrelas 
ao vê-las hei de querê-la
de manhã com luz suave
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Voarei ao seu encontro
faça chuva ou ventania
tomarei a melhor via
não importa até que ponto
 
Pode ser asa do vento
uma miragem real
o céu quiçá virtual
o Olimpo em movimento
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Mas será destino certo
na evasão do amor
projecção de esplendor
no teu coração aberto
 
Pode ser num foguetão
num avião ou veleiro
Pode ser veloz luzeiro
ou disco em propulsão
 
É signo por descobrir
É fruto por recolher
camarinha de cor verde
amora cheirando a silva
 
Porém irei onde esteja
fim do mundo se preciso
perco-me no seu sorriso
e sinto que ela me beija.

Ode à Primavera - Daniel Cristal


Despovoada está a praia... Verão é já saudade;
e não acabou ainda... O Sol continua quente;
porém, o vento é frio, o verde perdeu o jade,
a alegria perdeu o mar, o que há é gente ausente...
É triste o que se sente!

O Outono chega em breve, nostálgico e belo;
as folhas caem na rua, deslizam pela frente
embalam-nos na brisa, e o que foi amarelo
em castanho se torna com chuva intermitente...
Nostalgia é o que se sente!

E finalmente virá o frio e a neve
enregelar a terra, enrijecer o pêlo
e tolher nossos passos numa alegria breve;
o mar com marés vivas faz-se novelo...
É a tristeza feita gelo!

Porém, nem tudo é bera... Vem aí a Primavera!
E o homem futurece no que é florescente,
a mulher felicita a hora que se altera,
as cores do futuro são pra toda a gente...
É a alegria que se sente.


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Escorregão - Daniel Cristal



Vamos ao escorregão
Que existe junto à praia
Levo o Lourenço pla mão
Pra que na via não caia

Dois anos é muito pouco
No neto que é menino
O avô seria louco
Se o deixasse sozinho

O escorregão está no barco
É uma pista inclinada
A proa feita num arco
A torre-vigia sem nada

De buraco em buraco
Descobre o Lourenço o barco
O mastro é igual a um taco
A vela um lenço parco

A proa é igual à ré
A chaminé não tem fumo
Tem cata-vento na fé
De encontrar melhor rumo

Escorrega no navio
Agita toda a alegria 
Não há mar nem mesmo rio
Há vento sem ventania

Vai e vem - sobe e desce
Repete cem vezes a ida
Na queda eu sei que cresce
Também cresce na subida

Atroa no vozeirão
Quando grita pelo mar
Vai e vem no escorregão
Duma alegria sem par

E eu fico a observá-lo
Já fui menino assim
Já vivi nesse abalo
Nessa alegria sem fim

Enquanto sobe prá luta
No escorregão desta vida
O avô degusta a fruta
Da geração já vivida.



Madrigal - Daniel Cristal

 

 Alegre rouxinol que me saúdas
de manhã cedo: traz-me o deus Sol
no ledo tom dos trinos mais agudos,
porque eu quero cantar o arrebol !

Canta a mais bela trova do teu canto,
a trova que me encanta e me seduz,
pois o teu som renova o coração
e dá ao meu olhar, a nova luz !

Alegre rouxinol do canto lindo
que me saúdas ledo apaixonado,
não dês por terminado o que é findo...

Traz-me de novo o ser que é amado,
primeiro amor da leda madrugada,
e terei tudo, onde havia nada.


Amor Perente - Daniel Cristal

 

Andar enamorado todo o tempo
Cuidando dos laços muito frágeis
Com que se fortalece a existência
Bordar uma paixão com gestos ágeis

É tudo o que é sublime nesta vida
Cultivar a amizade como lema
Sendo o amor-amante uma divisa
Que resolve qualquer magno problema

Ter Psique no palácio do Amor
Viver sempre com ela ao seu lado
Numa dança bailada com candor

Oh sim como este dia é bem-vindo
É presente, futuro e foi passado
E é o dia estancado e nunca findo!