Virá o tempo em que toda a nossa relação com o tempo, com o espaço e com a comunidade, é uma aceitação tácita de empatia pura, uma concordância inquestionável. Se não chegou ainda esse tempo, é porque não chegou a hora da verdade, ainda não nos adentrou o poder da sabedoria, não adquirimos ainda o tempo do Amor. Virá o tempo em que o tempo não mais é contado, e é aceite como se o princípio fosse o fim, e o ómega o seu alfa, e a civilização deixe de ser dividida em vários ismos, em compartimentos, alguns estanques, com cismas e outros sismos, outros desaparecidos, diluviados. A civilização ainda não encontrou o seu sentido de empatia global, ainda não acertou no tempo em que a verdade é tácita, em que a sabedoria é natural e universal, e não uma extensão de utópicas realidades, ou um desnudamento da complexidade apregoada, defendida e abusada. Ainda não chegou o tempo em que o poder é compartilhado; ele ainda é partilhado, mas ao sabor dos que estancaram e confinaram o espaço em quintas e coutos murados, o tempo em urgências e premências, ou em esperas infindáveis, a sabedoria em conhecimentos de espertezas mais ou menos saloias, vorazes e cerceadoras de usufrutos universais. Virá o tempo em que não há mais esperas, porque terão acabado as vésperas dos dias sonhados. Não se espera o que já se alcançou na plenitude. E essa sabedoria precisa de começar dentro de nós, e sermos nós a expandi-la sem tibiezas nem constrangimentos. Enquanto a questionarmos, apenas pertenceremos ao rebanho que ainda não se soltou. E temos de mostrar bem nitidamente que já não lhe pertencemos. O rebanho está tresmalhado, porque há gente que se libertou... Que se libertou do tempo, do espaço e da comunidade. Libertou e ficou diferente; até ficou malhado! Zegrado, se quiserem! É preciso que se note essa diferença, em nós e nos outros. Aí sim abusemos da nossa diferença. Exibamos às escâncaras essa distinção. É da empatia pura que eu falo. Não falo mais do que é igual, semelhante ou parecido ao que era dantes. Mostremos que estamos fora do tempo, porque o tempo já não mais nos limita, e o espaço tolhe o passo de quem não se livra dele. Malhemos a nossa comunidade. Virá o tempo, em que não se falará mais de utopia, porque esta deu lugar à empatia, e a empatia não é mais nenhuma utopia. É um modo de ser que começou por ser uma experiência vivida por alguns, mas generalizou-se; ela teve o desplante e a desfaçatez de generalizar-se, e há comunidades pequenas que se globalizaram. Qualquer dia, o mundo não é mais o mesmo. É o outro que vê o arco-íris numa simples gota de lua. Se ainda não chegou esse tempo, é porque a verdade ainda não se vê à luz do sol, é verdade escondida em alguns, e estes ainda não abusaram do poder que ela tem ao escancarar-se, ainda não nos adentrou o poder total da sabedoria, ainda não vivemos o tempo do Amor. Contudo, há-de chegar o tempo da empatia pura. Aos poucos, numa construção peça-a-peça, como um edifício construído aos bocados, interminavelmente, com sabedoria, com a Idade do Amor. Não precisa de estar concluído. Nunca precisará de nenhuma conclusão. O fim e princípio confundir-se-ão; anular-se-ão. Como se as resistências humanas contrárias, e o tempo e o espaço, não sejam mais precisos para coisa nenhuma ao entendimento do que é mundo.
AGORA
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[image: 021gaivotas.JPG]
*AGORA*
(Rogério Martins Simões)
Agora que o homem
Se sente ameaçado
Agora que um simples pato
Enche com penas
As pen...
Há 2 anos
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