BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fermentação - Daniel Cristal


Implora a flora pela hora dessa chuva 
que lhe falta na raiz... Demora a uva 
na cuba a fermentar o néctar novo 
do velho País. E demora o povo 
a ser também feliz. 


Tudo o que se implora, na demora, 
permanece na hora do futuro 
incerto e petiz, flora sem raiz, 
fruto impuro que há-de fermentar 
quando aprender a amar. 


Mas toda a flora irá futurecer 
com esse néctar que o povo 
irá beber, depois de aprender 
a mondar a impureza como faz 
a cuba com a uva.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Alma a Prumo - Daniel Cristal


Levo a minha alma cheia, vida fora,
Com o sonho lindo que me enfoca;
O resto deixo à terra numa hora,
Liberto desse ouro que sufoca.

E vou feliz sonhando a madrugada,
Feliz quanto é possível ser na vida,
Sem qualquer mágoa rude na prumada;
Vou feliz com a alma bem erguida!

Levo no coração ternos abraços
De crianças amorosas, de parentes,
De amigos sinceros, o odor dos cravos,
O calor do amor, sorrisos quentes.

Levo bênçãos divinas concedidas
Por toda a Benquerença, a alegria
Das saudações sentidas e queridas,
Levo a partitura d' Harmonia.

Vou tão feliz como vai o doce amante,
Como a ave liberta da gaiola
Chilreando a canção mais empolgante
No fundo da guitarra ou da viola!

Sois meu amparo, Amigos desta vida,
Que mais me desejais, se sou feliz?
Exorto que tenhais a alma erguida
Na hora em que a sentirdes abatida!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ninguém Sabe - Daniel Cristal

 
Meu rio é brando e alegre ao deslizar
E quando enxurra é violento como o mar!
Em tempo benigno, ele é um encanto,
Mas, quando encapela, é meu quebranto...
 
É um rio que desliza nas minhas veias
Do centro da Terra vindo, pulsando cheias,
E só se corresponde com uma estrela
Ficando extasiado só em vê-la.
 
Entre ele e essa estrela flúi a alquimia
Há beijos trocados que ninguém entende
Parece um mundo nato da magia;
 
Ninguém sabe que esse rio nasce em mim
Ninguém sabe por onde ele anda e se estende
Vive dum sonho lindo... e nunca terá fim.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Na Humildade - Daniel Cristal

 
Serena, coração, como um cordeiro!
Acalma a ansiedade ou o pavor,
que te agitam em ritmo desordeiro,
destarte, na humildade do amor!
 
Não desesperes mais, não te insurjas,
não queiras abarcar o que não podes,
nem julgar cegamente o que tu julgas,
porque com amor a ti acodes!
 
Fica na humildade do amor,
assim, quase parado e insensível,
um rio muito manso, indolor!
 
Faz-te estátua viva no gesto crível,
afago de ternura e de fervor,
simples lençol de Sol, apetecível!
 

domingo, 19 de julho de 2009

Lamento - Daniel Cristal

 
Estou aqui a pensar em frente ao mar
- Um dia vais descarnar num acto puro
o molde da minha alma, sem me instar
a ver a criação toda do Futuro.
 
Mas nota bem: levo esta destroçada
por ver que o que cantei foi a Utopia
irrealizada: a vida feita Paz
e Amor na plenitude d' Alegria.
 
Como pareces mesmo Deus, me curvo
ao imenso poder que me definha,
mas doo-te esta palavra e o percurso
do sangue cá largado à prole minha.
 
Não sei por quanto tempo vai durar
este meu pergaminho e o lamento
deixados no caminho, ao voltar
da Tua frente... Insolente porque tento!

sábado, 18 de julho de 2009

A Benquerença - Daniel Cristal


É o local predilecto onde o melro
saúda a aurora na canção sonora
e transforma-se no amor do filadelfo
repartindo-o por esse mundo fora.
 
No sítio mais frondoso o melro canta
de modo a encher com o seu trino
os vales e as colinas, e agiganta
toda a harmonia alegre que defino.
 
Defino esse portal, defino o estado,
a atitude perene que jubila
a acção que nos transcende em todo o lado:
 
A Benquerença, acção que nos burila
e é nesse sítio alto que a poesia
poisa, e enche o coração de alegria.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um Brinde ao Amor - Daniel Cristal


Com uma taça de vinho, ofereço-te, amor, 
A luxúria do mundo na fúria -frescura, 
Esta que se perpetua no teu esplendor, 
haja ou não Lua, estejas ou não nua! 

É nosso destino despirmos a parra 
E dançarmos ao som da concertina; 
Esta vai ser a nossa melhor farra, 
Chega p'ra cá tua cintura tão fina! 

Levo-te ao Sol na cadência do Amor 
No tom da cantiga com a taça erguida, 
Cheiras a mel da mais bela colmeia 

A tua boca -rubi esvai-me o calor 
Pincelo com ouro o teu gozo da vida 
Somos um para o outro a melhor ceia... 

domingo, 12 de julho de 2009

A Mão Aberta - Daniel Cristal


No pano que eu bordo, vês as tintas
que coloram a vida, coisas que eu
não vejo, mas almejo por que sintas
o que eu pinto na música de Orfeu.

Por que escolho o verde, eu não sei,
e se ele vira rubro, também não!
Até parece a corte sem o rei
e os vassalos dançando num salão...

Não é preciso o rei, nem presidente,
nem poeta pra bordar o sentimento;
o próprio mundo o faz no seu presente...

Se alguém deixar a mão aberta ao vento,
todo o movimento se lhe agarra
a bordar qualquer tela sem amarra. 

sábado, 11 de julho de 2009

Este Fogo - Daniel Cristal


Pega um pouco deste fogo matinal
para que o dia te fique iluminado,
e pela noite dentro seja o brilho
que nunca mais te deixa tropeçado.

Não custa mais que um gesto este fogo:
um gesto que não custa mesmo nada,
um gesto que nos deixa agradecido
a Deus por ficar bem ao nosso lado.

E faz o mesmo que eu faço com o outro,
que de ti se abeira numa ânsia;
repete sim o gesto com constância;

Porque se assim for feito, toda a gente
ficará esta noite, iluminada,
sem a ânsia de nova madrugada.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um dia - Daniel Cristal


Um dia regressarás no esplendor
da raiz duma árvore centenária
mariposa celeste multicor
mulher do meu fascínio deusa vária

Deusa variegada porque cega
na cor na luz na voz na sua nudez
mulher virgem impura na entrega
mulher a unificar duma só vez

Una e vária impura sendo ave
do dia mais perfeito a aurora
de toda a criação sua candura

Virás - um dia - veloz na voz suave
capaz de premer aqui e agora
o motivo de ser que nos apura.