BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tríptico (Veneração ao Douro) 1 - Daniel Cristal

 
Homem são vestindo o seu paletó,
à tabacaria da esquina vai,
preto chapéu de abas com pó,
leva uma vara que nunca cai;
.
Por baixo das abas, traz uma barba,
interpela a mulher vendedeira
e ela responde toda brejeira,
na cabeça o lenço, que Deus lho guarda...
.
Coisas simples dizem, a vida nos campos
é ingrata e dura... os filhos, coitados,
têm a saúde dos pirilampos,
e, como os fósforos, são uns danados!
.
Os Invernos são gélidos e os Verões
quentes são. A uva amadurece
lentamente depois de muitas canseiras...
vamos apanhar as uvas das leiras.
 

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cântico Litoral

A Mário Sacramento, Clara Sacramento e David Cristo


uma salina ao lado e ao longe um cone ao perto uma pirâmide a imprimir-se no espaço e no tempo nas noites de luar um triângulo a projectar-se até na Lua e nos planetas
no cimo uma vela olhá-la foi espanto a brancura feria os olhos o branco era o sal e a pirâmide erguera-se da água salgada a aspirar novo ciclo cidade anfíbia a arrebatar o sangue recirculado
o moliceiro levava a vela desfraldada de repente a brancura voltou a ferir então no profundo o branco era a vela e o monte de sal
o Sol deitava-se no cimo da pirâmide um globo perpetuava o eterno e efémero ciclo diurno em toda a parte um cântico litoral a redobrar o seu som perdido na esperança duma aurora nascitura
era Aveiro a deusa anfíbia de Portugal no interior dum grande silêncio vespertino era ela no círculo o monte de sal e o moliceiro era ela a ofertar um novo caleidoscópio a fazer renascer novas formas ignoradas e novas harmonias
adoráveis pirâmides e rectângulos raras e exóticas linhas geométricas...
amor estampado nos pares de namorados a olhar o deitar do Sol no horizonte manso semicírculo a perder na memória a esfera encarnada a encimar o vértice branco num clarão litoral de proximidade e distância...

domingo, 22 de novembro de 2009

Cantiga Medieval - Daniel Cristal

 
Ai montras do Porto antigo
que me trazeis seduzida
ai Deus ele está distante !
 
Às lojas ouro fui comprar
para os meus dedos ornar
ai Deus está tão distante !
 
Do ourives trouxe prata
para meus vestidos bordar
ai Deus que distante está !
 
Linho rendas e cetim
para os olhos enfeitiçar
do meu amor tão distante !
 
E trouxe o negro da noite
para minhas mágoas calar
ai Deus que o tenho distante
 
E a Lua meu amor eu trouxe
para teus passos alumiar
ai Deus que está tão distante
 
De nada meu amor gostou
nada este amor aprovou
ai Deus como está distante !
 
E fui trocar por sorrisos
por este regaço de beijos
meu Deus como está distante !
 
Ai montras do Porto antigo
ensinai-me vos suplico
quero ser a sua amada !

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fermentação - Daniel Cristal


Implora a flora pela hora dessa chuva 
que lhe falta na raiz... Demora a uva 
na cuba a fermentar o néctar novo 
do velho País. E demora o povo 
a ser também feliz. 


Tudo o que se implora, na demora, 
permanece na hora do futuro 
incerto e petiz, flora sem raiz, 
fruto impuro que há-de fermentar 
quando aprender a amar. 


Mas toda a flora irá futurecer 
com esse néctar que o povo 
irá beber, depois de aprender 
a mondar a impureza como faz 
a cuba com a uva.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Alma a Prumo - Daniel Cristal


Levo a minha alma cheia, vida fora,
Com o sonho lindo que me enfoca;
O resto deixo à terra numa hora,
Liberto desse ouro que sufoca.

E vou feliz sonhando a madrugada,
Feliz quanto é possível ser na vida,
Sem qualquer mágoa rude na prumada;
Vou feliz com a alma bem erguida!

Levo no coração ternos abraços
De crianças amorosas, de parentes,
De amigos sinceros, o odor dos cravos,
O calor do amor, sorrisos quentes.

Levo bênçãos divinas concedidas
Por toda a Benquerença, a alegria
Das saudações sentidas e queridas,
Levo a partitura d' Harmonia.

Vou tão feliz como vai o doce amante,
Como a ave liberta da gaiola
Chilreando a canção mais empolgante
No fundo da guitarra ou da viola!

Sois meu amparo, Amigos desta vida,
Que mais me desejais, se sou feliz?
Exorto que tenhais a alma erguida
Na hora em que a sentirdes abatida!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ninguém Sabe - Daniel Cristal

 
Meu rio é brando e alegre ao deslizar
E quando enxurra é violento como o mar!
Em tempo benigno, ele é um encanto,
Mas, quando encapela, é meu quebranto...
 
É um rio que desliza nas minhas veias
Do centro da Terra vindo, pulsando cheias,
E só se corresponde com uma estrela
Ficando extasiado só em vê-la.
 
Entre ele e essa estrela flúi a alquimia
Há beijos trocados que ninguém entende
Parece um mundo nato da magia;
 
Ninguém sabe que esse rio nasce em mim
Ninguém sabe por onde ele anda e se estende
Vive dum sonho lindo... e nunca terá fim.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Na Humildade - Daniel Cristal

 
Serena, coração, como um cordeiro!
Acalma a ansiedade ou o pavor,
que te agitam em ritmo desordeiro,
destarte, na humildade do amor!
 
Não desesperes mais, não te insurjas,
não queiras abarcar o que não podes,
nem julgar cegamente o que tu julgas,
porque com amor a ti acodes!
 
Fica na humildade do amor,
assim, quase parado e insensível,
um rio muito manso, indolor!
 
Faz-te estátua viva no gesto crível,
afago de ternura e de fervor,
simples lençol de Sol, apetecível!
 

domingo, 19 de julho de 2009

Lamento - Daniel Cristal

 
Estou aqui a pensar em frente ao mar
- Um dia vais descarnar num acto puro
o molde da minha alma, sem me instar
a ver a criação toda do Futuro.
 
Mas nota bem: levo esta destroçada
por ver que o que cantei foi a Utopia
irrealizada: a vida feita Paz
e Amor na plenitude d' Alegria.
 
Como pareces mesmo Deus, me curvo
ao imenso poder que me definha,
mas doo-te esta palavra e o percurso
do sangue cá largado à prole minha.
 
Não sei por quanto tempo vai durar
este meu pergaminho e o lamento
deixados no caminho, ao voltar
da Tua frente... Insolente porque tento!

sábado, 18 de julho de 2009

A Benquerença - Daniel Cristal


É o local predilecto onde o melro
saúda a aurora na canção sonora
e transforma-se no amor do filadelfo
repartindo-o por esse mundo fora.
 
No sítio mais frondoso o melro canta
de modo a encher com o seu trino
os vales e as colinas, e agiganta
toda a harmonia alegre que defino.
 
Defino esse portal, defino o estado,
a atitude perene que jubila
a acção que nos transcende em todo o lado:
 
A Benquerença, acção que nos burila
e é nesse sítio alto que a poesia
poisa, e enche o coração de alegria.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um Brinde ao Amor - Daniel Cristal


Com uma taça de vinho, ofereço-te, amor, 
A luxúria do mundo na fúria -frescura, 
Esta que se perpetua no teu esplendor, 
haja ou não Lua, estejas ou não nua! 

É nosso destino despirmos a parra 
E dançarmos ao som da concertina; 
Esta vai ser a nossa melhor farra, 
Chega p'ra cá tua cintura tão fina! 

Levo-te ao Sol na cadência do Amor 
No tom da cantiga com a taça erguida, 
Cheiras a mel da mais bela colmeia 

A tua boca -rubi esvai-me o calor 
Pincelo com ouro o teu gozo da vida 
Somos um para o outro a melhor ceia...