BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A Chacota da Velhice - Daniel Cristal


A chacota da velhice é um aleijão anímico que continua a desmerecer a civilização ocidental. Primeiro, porque fazer chacota é merecê-la quem a faz, considerando que é espelho de azedume e vileza. Seguidamente, ela enraíza-se em parcelas arquetípicas de educação e formação insalutares, ainda activas, muito embora questionadas por espíritos atentos e esclarecidos. Em função da conservadora visão  apolínea ou venusta, a criança deficiente ou o velho decrépito, deveriam ser eliminados. Esparta assassinava os velhos e crianças, porque não serviam para a guerra. Esta faceta psicológica prevaleceu na cultura ocidental, diferenciada da cultura hindu ou budista. Efectiva e distintamente, nesta, a velhice é um posto superior na escala da hierarquia do saber e da harmonia universal. Estando nós no estádio de uma cultura a globalizar-se com os contributos de outras, haverá hoje mais razão do que nunca para uma aprendizagem que confronte filosofias e religiões, e se democratizem as premissas desajustadas duma concepção de vida colectiva imperfeita, contudo evolutiva.
Há pessoas que nunca pensaram na imperfeição moral em que vivem. Mas alertadas, muito ajudam depois à reconstrução da sabedoria à escala global.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Mea Culpa - Daniel Cristal


Eu não sou nada, Senhor,
Sou uma pedra perdida
Numa pedreira sombria.
 
Eu, eu não sou nada, Senhor,
Sou uma estrela ferida
Num horizonte sem dia.
 
Eu, eu não sou nada, Senhor,
Sou uma ave cativa
Posta aqui por engano.
 
Que pena tenho dum anjo
Morrendo no infinito
De quem a mãe não tem seio!
 
Perdoai, Senhor, perdoai, 
Mas eu já não creio em nada,
Nem sequer em mim já creio.
 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Perfume do dia - Daniel Cristal


O perfume do ramo que lhe dei
raiou no seu sorriso com encanto
e jubilou no afecto outro tanto...
Não há como o odor duma roseira

Nem olhou a abundância do espinho
que ameaça o dedo imprevidente:
faz sofrer e descarna quem o sente
na mistura da dor com o carinho

Cada gesto é uma alegoria:
entende-se o carinho e o seu perfume
e ninguém lhes consegue ser imune

Pois, há tanto perfume neste dia
quanto há nesse gesto de oferta
e a dor do espinho nunca é que certa!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Transformação - Daniel Cristal


Fui apurando com o tempo os meus sentidos,
Buscando na raiz da terra alguns mistérios:
O meu rosto específico dos anos idos,
Revolvendo a forma dos godos-celtiberos.
 
E fui sumariando os frutos do saber:
Aqui uma laranja doce que amargava,
Ali um limão amargo por espremer,
Mais doce do que alguma vez se imaginava!
 
E concluí deste modo: o que hoje nos atrai
Amanhã nos afasta com uma palavra
Mal medida ou a atitude que tudo esvai...
 
E razões para quê? Se buscamos em vão
O mundo que ontem foi cinza, e hoje é lava,
E amanhã será gelo em transformação.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A Luz Eterna - Daniel Cristal


Como é bela, a pessoa, sendo casta!
Alta ou baixa, estreita ou alargada,
A criatura é bela quanto basta:
Cabeça, tronco e membros, voz alada.
 
Seu gesto nos revela a (com)paixão
Por toda a humanidade. Tem a alma
Singela, porque é bela! Sedução
No olhar onde a luz eterna se espalma!
 
Como é boa, a pessoa! Parece maga:
Nos cinco sentidos, a sabedoria
Da perfeição terrestre, armazenada!
 
Segue lhe a emoção, a autovia
Do coração, unificando o Aquém
Ao Além no seu Mundo de Alegria.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Soneto - Daniel Cristal


A Nau de Portugal lá vai e ruma!
E exulto ao dizer: cabe-me a proa
Num Oceano encoberto pela bruma
Que o soneto clareia quando toa.
 
A terra que por cá cavei com suor
É semelhante a tanta doutros lados!
O fim é ela mesma... é altar-mor
Do Deus-Maior na dor dos desgraçados!
 
Altar onde se pede o sacrifício
Imolando o interstício do cordeiro
Na marcha baralhada por tom pífio.
 
O meu soneto é o som que calcorreio
- Clarifica o livrete que falseia
E é de toda a Terra o seu correio.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Discar o Sol - Daniel Cristal


Se algum dia me vires numa nuvem
a teclar todo o sol no nevoeiro,
verás todo o arco-íris na penugem
e todo o cereal puro num celeiro.

Porque canto o pássaro do futuro,
e a mão do semeador a dar amor...
Olvido esta dor do labor duro:
o verso semeado noutra cor.

Fragmento a cor sem outra dor
que não seja a alegria do amor;
e amo tudo o que faço neste dia.

E porque a utopia é a harmonia
que nunca nos é dada sem favor,
trabalho com ardor pelo bom-dia.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Ampulheta do Tempo - Daniel Cristal


Nesta plataforma propícia à meditação, onde me situo no estado actual, verifico, com algum pesar e incómodo, que tenho andado algo arredado do vosso convívio agradável, e dos amigos mais distantes no espaço geofísico, coincidente por sinal com o mundo cibernáutico; efectivamente, alguns estragos o tempo tem cometido no meu corpo, próprios da idade e de alguns relativos excessos experimentados... mas continuo por cá sorridente, apesar disso. Auto-limitado na acção por decisão própria, receoso do desgaste temporal, cuidando dos arranjos adequados aos órgãos vitais necessários, distanciado de projectos. Apenas gozando o presente, quanto possível! Agradecendo a hora escorrida em cada momento ao Arcanjo que resguarda e vela a mansidão dos justos, na ambiência que nos cabe, graças também a vós. É, de facto, um privilégio viver mais uma hora no interior do bojo do balão fruindo do vosso saudável convívio...

É uma honra ser acolhido dia-após-dia nesta casa térrea onde desfrutamos de carinhosa companhia; onde vemos crescer os nossos netos passo-a-passo diferentes, mais soltos, mais afoitos, mais surpreendentes, os filhos a tornarem-se adultos, fortes, eventualmente com algumas cãs raiadas já na cabeleira, as filhas a tentarem agarrar a felicidade possível, noras e genros a procurarem acertar com o percurso que leva à plenitude do universo do amor.
 
Continuo, destarte, por cá sorridente e agradecido... não será por muito tempo, certamente, no comum conceito de esvaziamento da ampulheta. Quantos anos de poeira se mete dentro da ampulheta duma existência? Cinquenta, setenta, noventa? Ninguém sabe quanto pó nos está destinado, ou quanta energia e quanto tempo foram programados por força da Natureza, na edificação do nosso élan-vital. Porém, não esqueçamos, para favorecimento da nossa saúde e equilíbrio mental, que é só pó, eventualmente brilhante e cintilante, ou areia; pouca diferença faz, pó ou areia. Se for pó, ele avisa-nos todos os dias do que nos espera na reversão. Se for areia pode levar-nos a acreditar que ainda nos resta alguma ilusão da eternidade. Por curiosidade, nem sabemos muito bem como se processa o milagre do estado contínuo.
 
Para viver mais uma hora, a partir da meia-idade, é preciso ter renunciado anteriormente ao exercício de vícios e à prática de excessos; esses que dão muito prazer sensorial, mas matam ou reduzem a longevidade. É preciso resistir às drogas, ao tabagismo, aos excessos de álcool e da comida, ao desregramento nos hábitos naturais e salutares. São horas que farão falta à vida vivenciada com o prazer de se estar vivo na plenitude do convívio humano saudável, horas escorridas pelo orifício da ampulheta, que amaciam a alma com a brandura da consciência de todos os objectivos cumpridos, todas as obrigações satisfeitas, todos os deveres resgatados.
 
É um privilégio estar onde estamos, a ocupar o espaço que nos foi e está destinado por forças  muito poderosas, sobrenaturais, quase obscuras; há-de existir algum sentido para que cada um cumpra o seu destino, algumas vezes num âmbito colectivo, outras individual. Somos pertença de quem nos fez à semelhança de um deus original que tanto vive quanto morre, para que tudo continue multiplicado numa ou noutra parte do Universo, nesta forma e matéria, ou noutra possível, virtual, casualmente, para nós, até desconhecida.
 

sábado, 3 de janeiro de 2009

Utopia - Daniel Cristal


Utopia? E que mal existe na utopia?
Que mal existe na palavra tão temida
que não pareça simplesmente pretendida
ao ajudar-nos a encontrar a Harmonia?!
 
Porque se é de pobreza triste a nossa vida
ou se é de tristeza pobre a nossa fé,
então faz bom sentido fazer marcha à ré
até que a maré nos leve a toda a brida.
 
A toda a brida com a carta do mareante
que vai à caça do tesouro pela certa
e canta à bolina nessa descoberta...
 
E canta à proa, que não há medo que não cante,
e é melhor cantar de medo que estar triste,
pois o futuro urge a Harmonia que o assiste.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O Beijo - Daniel Cristal


Não foi fácil beijar-te; muito menos
tirar-te o sutiã... Foi sim preciso
cuidar do meu olhar, do meu sorriso,
da minha fraca voz, dos meus acenos.

Difícil sim podíamos bem dizer:
foi toda uma alquimia explorada,
que de ti se soltou, nata do nada,
um encontro feliz ao acontecer.

O beijo só acontece no instante
em que irremediável nos convida
ao gesto da atracção de toda a vida...

Quer seja na boca, quer no seio,
só depende do ser que é tão galante
que sabe versejar no galanteio.