BEM-VINDOS

Obrigado pela sua chegada; não se esqueça que é de AMOR AGAPIANO* que essencialmento poeto, também erótico quando a propósito de algumas circunstâncias episódicas nas mais diversas proporções. Como estou avança(n)do no tempo, não se escandalize, porque o que é preciso erradicar do Mundo é o preconceito secular, topo onde está preponderantemente a regressão da Humanidade neste percurso da condição humana, nem sempre adequada ao futurecer* do Homem, albergado corporalmente neste Planeta, sem saber com precisão, na generalidade, onde está a sua/nossa Alma. [ Obs. os astericos* assinalam dois neologismos da nossa Língua ].

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Amar no Intervalo - Daniel Cristal


A energia bruxuleia, meu amor,
uma fraquinha luz do puro ser...
Não há nenhum garrote ou temor
que a faça regressar ou fenecer.

Ela é frágil brilhante quanto a gente;
ela irradia amor, paixão bem quente;
tem um longo caminho pela frente
mas breve se houver um acidente.

Entre nascer-morrer há um intervalo
que é preciso usufruir; pintá-lo com cor
é mostrar que, com dor, pode-se amá-lo.

Amar no intervalo, onde for
que a vida possa ser redesenhada
e desejada em cada alvorada.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adivinha - Daniel Cristal

Para a PoetAmiga Carmo Vasconcelos no Dia do Amigo


É uma palavra simples, muito pura,
Um signo absoluto na essência,
Um sinal com função de sapiência,
E, quando feita verbo, nos apura.

Sem ela não há vida que nos valha;
Ausente, tudo é vão defeituoso,
O homem fica ignóbil perigoso,
E a sua acção mostra a sua falha.

Da palavra ao verbo, a via é fácil:
Basta emocionar o coração,
Viver a humanidade com-paixão.

Mas, sendo ela dentro, o ser é grácil:
Encoraja a viver perto da cruz,
E, contrária ao ódio, jorra luz.

Poeta-Pão - Carmo Vasconcelos

Para Daniel Cristal, querido Mestre, no Dia do Amigo


Ainda não nasceram as palavras
Que haverei de cantar-te agradecida
Pla colheita dos versos que aqui lavras
Poeta-amigo, pão da minha vida!

Tuas letras são remédio que aduba
Tua seara – mente e coração
Tua pena o ancinho que derruba
Ervas daninhas – dor e solidão

Ervas desse teu chão e meu também
Que o mesmo solo habitas como eu
Filho que és da mesma terra-mãe…

Ou não sejas, poeta, o meu irmão
Que o mesmo amor Divino concebeu
E que enlaçou na tua a minha mão!

sábado, 31 de janeiro de 2009

É Tarde, meu amor! - Carmo Vasconcelos


É largo o mar... A ele não me afoito 
Sepultarei na areia a tua ausência 
Que náufraga já sou na turbulência 
Desta maré adversa onde me acoito 

Se Deus abrisse para nós as águas 
C'o mesmo espanto com que o fez um dia 
Por entre a esperança aberta correria 
Rumo aos teus braços pra calar as mágoas 

Mas já se foi o tempo dos milagres 
Para que a tua vida me consagres 
E a minha à tua possa ser unida 

É tarde, meu amor, para a partida 
Resta a dor de jamais te navegar 
Cega de ti... ficar olhando o mar 
 

Se eu morresse amanhã - Carmo Vasconcelos


Uma grande revelação para mim, foi esta poetisa Carmo Vasconcelos, que, na ductilidade do verso, escreve em vários registos estéticos. Clássica e verso-librista, também discorre no discurso romanesco. É por isso multifacetada, e a arte, que dos seus dedos e da sensibilidade escorre, tem picos grandiloquentes. Veria eu com olhos de satisfação se algum livreiro se interessasse por esta excelente poeta, editando toda a sua obra, e estou convencido que ele seria recompensado na correspondência e no retorno comercial, que é isso, presumo, que os empresários editores pensam e querem; oxalá que esta asserção fosse um juízo enganado de quem a profere. Aqui e hoje amostro alguma da sua poesia - mas pode lê-la em -http://carmovasconcelos.spaces.live.com:80/  :
 

Se eu morresse amanhã, não o permita Deus... 
Minha pobre alma penaria sem cessar 
Por não ter pousado o meu último olhar 
Na redentora luz dos queridos olhos teus 

Se eu morresse amanhã, por já prescrita sina 
Sem tempo de dizer-te o que o coração cala 
Pra sempre ouvirias minha negada fala 
A cada passo, a cada som, a cada esquina 

Se eu morresse amanhã, sem tua flor ou poesia 
À tua ficaria minh'alma aprisionada 
Sem luz pra encontrar minha nova morada 
Sem golpe d'asa para voar sem nostalgia 

Se eu morresse amanhã, não o permita Deus... 
Num raio de lua ou brisa morna sentirias 
Roçar-te o rosto na maior das estesias 
Meu beijo de partida em derradeiro adeus!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Amigos - Daniel Cristal


Eu tenho tantos amigos, que não os consigo enumerar! Amigos de todas as idades: da infância, da juventude, da adultidade, da velhice. E também tenho uma legião de tantos amigos desconhecidos, que vejo os rostos deles num só com um sorriso pleno e perene; alguns destes, de vez em quando, acenam-me; outros estão do outro lado da vida transparente, e apenas sorriem nesse rosto único, como ícone perpétuo. Não se aproximam fisicamente, não me dirigem uma palavra, mas sorriem seraficamente, e eu sei que estão lá e cá. São os que preparam a imortalidade da presença amiga. Nesta não é preciso acenar de nenhum lado, mas apenas sorrir. Tenho tantos amigos que às vezes nas minhas deambulações, vou ao riacho do Juncal, e vejo-os a sorrir, perfilados num amalgamado rosto singular, à superfície do espelho das suas águas! São rostos todos iguais num permanente rosto, muito belo, muito puro. Como lhes aceno e eles não respondem, na visão espelhada, reage, muito perto, um canteiro geométrico cheio de cores amarelas, vermelhas e brancas. O seu odor atrai à distância, a sua fragrância é herbácea, e esta sente-se em redor. No centro do cenário, o marulhar do riacho, canta os hinos de amor, que melhor sabe. Tenho muitos amigos; todos eles me ajudam a viver, e eu não posso viver sem eles. Se um deles desaparece, murcha uma flor entre as demais, e com ela me murcho um pouco também, todos nós ficando à espera da Primavera logo advinda. Se algum deles fica triste, há uma legião de sorrisos que o atrai à distância com as suas fragrâncias odorosa e musical. Os meus amigos não choram, nem se entristecem longo tempo, mas sorriem com preferência quase todo o tempo, ao redor. Especialmente, quando nos encontramos do lado de cá ou de lá, e se estivermos distantes a melhor sensação, que há à volta de nós, aproxima-se. Como sou grato, por isso, aos amigos que fiz e tenho!
 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Se a Turba - Daniel Cristal


Nunca dou de barato qualquer acto,
e se a turba não liga ao que digo,
então eu digo: nunca mais eu ligo
ao lixo que, no outro, é um facto.
 
Se a turba não responde ao que eu exprimo,
que se lixe a orelha gasta e mouca
desta gente caduca que apouca,
e até a do primata que é meu primo.
 
Se o mal teima em grassar, que nela grasse,
desde que eu não deixe de amar
a pessoa que nos faz diferenciar.
 
Que nela grasse o ódio e a enlace,
que nunca mais se veja livre dele,
que a mate e esfole, alma e pele.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Som duma Guitarra - Daniel Cristal


Aquele marulhar é uma sereia
na voz do mar e ele volta-e-meia
chama brada e seduz especialmente
quando o Inverno esfria o corpo quente
 
Quando o Inverno fustiga e nos recorda
o Sol da Primavera ou do Verão
somos uma formiga que acorda
e inflecte numa nova direcção
 
 
Sereia a marulhar nas nossas veias
o som da sedução no qual lhe peço
o timbre que enleva e nos enleia
 
É a ânsia de apressarmos sem regresso
o solstício de Junho ao ser cigarra
a festejar o som duma guitarra.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Estrelas Mil - Daniel Cristal


Deixa só que enxugue do teu rosto
a lágrima amarga que o desfeia
e deixa-me beijar pelo sol-posto,
os teus olhos na boca que os enleia.
 
Deixo esta carícia que te afaga,
a minha voz perdida na tua dor,
e abraço-te com força, com amor,
porque é com amor que a dor se paga.
 
Não sentes esta ardência, ó meu amor,
a inocência delícia da carícia?
Não sentes o calor deste fulgor?
 
Depois do sol se pôr, no meu rubor,
teus olhos brilharão com outra luz:
Verás estrelas mil no coração.
 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Solidão - Daniel Cristal


Nunca estou só, amigo, nunca mesmo!
Quando reactivo, fico no casulo,
na crisálida onde me anulo,
e aguardo a mariposa, vinda a esmo.
 
Ela termina cedo ou mais tarde,
e chega a inspiração ou a utopia
nessa metamorfose da harmonia,
e, num mundo de surdos, faz alarde...
 
Há por aí a surdez de quem não escuta,
e só se ouve a si - palavra oca!
Extrai-lhe da cabeça a sua boca!
 
Pois, na passiva sigo a batuta
que me enche do som que me inebria
e até a solidão me extasia.